No vídeo disponível no canal da marca no Youtube, uma moça branca e
magra briga consigo em frente a um espelho: “Parabéns, eu acordei gorda
de novo! Por que? Porque você não resistiu aquele último brigadeiro da
festa. Comeu e hoje acordou parecendo um balão de gás hélio, inchado.
Agora toca começar a dieta da proteína, a dieta dos pontos, do tipo sanguíneo, da pera, da lua. Parabéns pra você que se comportou a semana inteira e errou justo no dia da festa. Aquele vestido que você comprou, sabe aquele vestido lindo branco? Esquece, vai ficar todo marcado, ridículo. Vai colocar esse corpinho redondo cheio de brigadeiro pra dançar na pista, vai“.
Agora toca começar a dieta da proteína, a dieta dos pontos, do tipo sanguíneo, da pera, da lua. Parabéns pra você que se comportou a semana inteira e errou justo no dia da festa. Aquele vestido que você comprou, sabe aquele vestido lindo branco? Esquece, vai ficar todo marcado, ridículo. Vai colocar esse corpinho redondo cheio de brigadeiro pra dançar na pista, vai“.
A reação da moça diante do consumo de um mísero brigadeiro pode soar
exagerada e absurda para alguns, mas a verdade é que esse pensamento é a
realidade diária de milhares de mulheres, incluindo as que sofrem com
transtornos alimentares como anorexia e bulimia; para elas, um único
brigadeiro pode provocar crises severas. O discurso presente no vídeo é o
discurso que essas mulheres reproduzem constantemente, sem qualquer
“toque de humor”.
Além disso, mulheres gordas são insultadas do início ao fim, ridicularizadas e desvalorizadas como seres humanos. E apesar da questão ser certamente mais grave para mulheres que sofrem com transtornos alimentares, a agressividade presente no vídeo atinge todo o gênero feminino.
Além disso, mulheres gordas são insultadas do início ao fim, ridicularizadas e desvalorizadas como seres humanos. E apesar da questão ser certamente mais grave para mulheres que sofrem com transtornos alimentares, a agressividade presente no vídeo atinge todo o gênero feminino.
Com o show de ofensas, a Avon espera despertar a preocupação com a
aparência física em suas consumidoras. A partir daí todas as mulheres
estão, presumidamente, na frente do espelho em verdadeira paranóia, se
chamando de ridículas e se torturando porque não “se comportaram”. Até
que a empresa, como um passe de mágica, oferece uma solução milagrosa,
um produto que em apenas alguns segundos consegue transformar a
autoestima destruída em uma autoimagem confiante. O discurso no vídeo de
repente muda: “(…) Você vai rechear aquele vestido, vai sambar, se
acabar. Os caras não querem ter onde pegar? Então pronto, meu amor. Tá
linda, gata, poderosa. Olha só pra você!”
Infelizmente a vida real não é simples assim. Não basta uma aplicação de
um produto de maquiagem para que a autoestima destroçada se transforme
em amor próprio absoluto. E, ao contrário do que a empresa sugere, o
fato de existirem homens que queiram “ter onde pegar” também não faz com
que a mulher que se odeia passe a se amar. Afinal, são muitos anos de
vida ouvindo que nunca são bonitas o suficiente, que seu valor está
diretamente relacionado ao seu peso e as aos ditos “defeitos” no rosto e
no corpo. Com uma vida inteira de destruição, nenhum produto é capaz de
reparar os estragos. Mas certamente servirá como uma “máscara”.
A Avon sabe que muitas mulheres tentam resolver o problema maior
buscando paliativos como os seus produtos. Por isso faz uma propaganda
tão descaradamente manipuladora e ofensiva, que trata mulheres como
desequilibradas. Subestima a inteligência de todo o gênero feminino,
sugere que devem se sentir satisfeitas porque alguns homens gostam de
“ter onde pegar” e oferece seu serviço.
Será que as pessoas têm tão pouco senso crítico como a empresa julga?
Por Jarid Arraes\Revista Forum