08/10/2014

Cidade onde o Bolsa Família é maior escolheu Marina

Em Santa Rosa do Purus, no Acre, famílias receberam, em setembro, o maior valor médio do benefício: 364,84 reais; mas nem assim elegeram Dilma

Luís Lima
Canoas indígenas no porto da Aldeia Nova Aliança, em Santa Rosa do Purus, no Acre
Canoas indígenas no porto da Aldeia Nova Aliança, em Santa Rosa do Purus, no Acre (VEJA)

Às margens do rio Purus, no estado do Acre, se localiza o município de Santa Rosa do Purus, perto da fronteira do Brasil com o Peru. Isolado geograficamente, é preciso viajar por sete dias de barco para chegar até lá. Não à toa, possui um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano do Brasil (0,517) e recebeu, em setembro, o maior valor médio oferecido pelo Bolsa Família no país: 364,84 reais por família. Considerando as 636 famílias que lá habitam e são beneficiárias, os recursos totais repassados em setembro eram da ordem de 232.036 reais, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social. Ainda que o programa seja uma das principais bandeiras sociais do PT, nestas eleições, a cidade elegeu Marina Silva (PSB) como favorita, com 49,80% dos votos, contra 34,71% de Dilma Rousseff (PT) e 14,58% de Aécio Neves (PSDB). Apesar de haver o consenso de que o PT colhe os frutos eleitorais pela implantação de suas políticas de inclusão, o fato chama atenção pois mostra que, nem sempre, isso se converte em votos à sigla.


O cientista político da Universidade Federal do Acre (UFAC), Élder Andrade, tem uma explicação para o fenômeno. Segundo ele, ainda que em 2010 a candidata tenha perdido no Acre, sua imagem está muito associada ao governo local, que é quem monitora e garante o repasse de recursos aos beneficiários. A gestão do Bolsa Família é compartilhada entre União, estados e municípios. “Quem paga a conta é o governo federal, mas quem leva a fama é o governo estadual, pois ele é quem define quem tem acesso ao programa”, diz. Além disso, no Acre, o PSB faz parte da coligação do atual governador Tião Viana (PT), candidato à reeleição, o que também ajuda a entender a predileção por Marina. Outro fator que impulsionou a exposição de Marina foi a morte de Eduardo Campos, que alçou não só a candidata, mas o próprio Acre, ao centro do debate eleitoral.

Para o cientista social e mestre em Direito Comparado pela Sorbonne, Rafael Wowk, a votação tampouco causa estranhamento. “Vincular o recebimento do programa ao voto no PT vai de encontro à ideia geral da iniciativa, que é dar autonomia às pessoas, inclusive, para votar em quem quiser”, ponderou. Em Santa Rosa do Purus, em 2010, Dilma havia ficado em terceiro lugar na preferência do eleitorado local, atrás de José Serra e Marina Silva.

VEJAEfeito eleitoral do Bolsa Família diminui no Acre
​“Votei na Marina, porque ela é acreana batalhadora e guerreira. Ela olha mais para o nosso  estado do que os outros candidatos”, afirmou José Osório, morador de Santa Rosa dos Purus há cinco anos.

Osório conta que grande parte da população da cidade trabalha na prefeitura, e outra parte depende de iniciativas do governo, como o Bolsa. “A prefeitura não dá conta de empregar a todos. Então, ou você trabalha no mercado de alimentos, e não ganha nem um salário mínimo, ou você apela para a ajuda governamental”, afirma. A cidade conta com um grande número de indígenas das tribos Kaxinawá e Kulina. Para Osório, este é outro fator que chama votos para a candidata socialista. “A Marina apoia causas pró-indígenas, como a demarcação de terras. E isso motiva essa população a votar nela.”

O desempenho de Marina no Acre, no entanto, não é unanimidade. Dos 22 municípios, Dilma teve maioria dos votos em dez, Aécio em sete e Marina, em cinco. A ex-senadora só ganhou na contagem estadual porque uma das cidades onde venceu é Rio Branco, a capital, que também é a mais populosa do estado, com 360 mil habitantes. “Muita gente votou em Dilma, inclusive eu, pois ela representa a continuidade de programas sociais fundamentais ao desenvolvimento de regiões carentes, como o Norte”, afirmou Franklin Sales, um dos fundadores de Santa Rosa do Purus.


O menor benefício pago pelo Bolsa Família em setembro foi para as três famílias beneficiárias da cidade de Alto Feliz, no Rio Grande do Sul. O montante foi de 86 reais para cada uma, segundo o Ministério.


Fonte: Veja

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