O sol nasce e chega o grande dia: rapel nos paredões do Cânion do Rio Poti
Embora seja conhecido e divulgado através da imprensa local e estadual, o Cânion do Poti ainda é pouco visitado, mas sua beleza já atrai ecoturistas e aventureiros de várias partes do país e também do exterior. E isso é mais um estímulo para continuarmos a nossa caminhada.
Após tentar dormir no meio do mato, dentro de barracas, o dia amanheceu rápido demais. Tem que sair logo da barraca porque foram armadas sobre pedras que esquentam rápido. Se não se der por vencido, melhor não confiar no Netto, da Alta Aventura: ele seca seu colchão sem nem perceber.
Vamos pegar as trilhas porque todos estão interessados em desfrutar desta beleza selvagem com as inscrições rupestres e suas características geológicas.
Seguindo já encontramos a pequena queda d’água da ‘Lembrada’ sendo despertada pelo sol. Pedras estranhas são reveladas causando sustos e surpresas.
Por um caminho trilhado por pescadores seguimos até o ponto de descida à cratera. A equipe da ‘Alta Aventura’ já havia se antecipado e armado cordas, ancoragem e mosquetões para uma descida de cerca de 30 metros de altura. Todas as recomendações são importantes.
“Devemos usar equipamentos certificados com o acompanhamento de instrutor capacitado. Tem que estar atento às normas de segurança e atenção aos desníveis prováveis do relevo (já que os paredões do Cânion são bem acidentados). Tem que manter os pés afastados e pernas estendidas para manter a base de equilíbrio. Na caída é importante olhar a localização do bote para não cair na água e chegar sentado”, orientou o instrutor de rapel, Diego Santos.
Para que fique bem claro: fizemos preparo na Ponte Estaiada, em Teresina, algumas semanas antes. O Alan parece ter esquecido o que aprendeu: levou um tombo ao iniciar a descida e outro ao cair no bote. Motivo para gargalhada geral, mas foi uma queda com segurança, segundo nossos instrutores.
“É uma prática segura. Não é normal alguém cair, mas acontece. Está dentro do padrão de segurança. Nós prevemos isso e já deixamos alguém de prontidão bem próximo”, alertou Diego Santos.
Já dentro da água, a bota molhada pesa. Melhor é ficar descalço e melhor ainda é pular no bote e deixar o cinegrafista e o repórter trabalhando. Então eu resolvi nadar e ajudar a puxar a equipe.
Pelos corredores do desfiladeiro, que se compõe por 8 km de extensão e chega a 60 metros de altura, as rochas se transformam. Na verdade, elas se esculpem. Parecem conversar com os admiradores contando histórias misteriosas. Sem dúvidas, uma recompensa para quem não desistiu de chegar até aqui.
Vendo tudo isso nos dá uma certeza: fazer reportagem com o Cânion não foi fácil, nem difícil e muito menos comum. É surpreendente! O editor de imagens Paulo César Ribeiro, que ilustra e finalizou as matérias, descreve bem: “O local é bonito e bem diferente. Qualquer imagem é rica para encher a tela e os olhos também. É mesmo um roteiro que vale a pena conferir”.
As camionetes não negam esforço e enfrentamos terra e muitas pedras no caminho rumo ao Cânion do Rio Poti. Muitas mesmo! Mas quem disse que seria fácil chegar a um cenário de indescritível beleza selvagem com características geológicas únicas?! Os desafios não foram poucos que nem o pneu furado da camionete desanimou o grupo.
Para registrar as imagens do percurso, parte da equipe de reportagem teve de acompanhar do lado de fora do carro enfrentando também a lama e o sol (eu preferi ficar no ar condicionado mesmo, mas juro que era só porque estava fazendo anotações...risos).
Por falar em equipe, vamos “dar nome aos bois”: eu (editor Dennis Arias), Alan Garcia(repórter) e o cinegrafista Renato Muniz já estávamos no roteiro anterior. Desta vez contamos com o auxílio técnico do Raimundo Soares, que tirou nossa camioneta do atoleiro várias vezes. Da equipe, uma dica que o Renato aprendeu somente no local: não esqueçam de levar bota(ou outro calçado resistente) para esse tipo de trilha e aventura.
Mais quilômetros e chegamos ao ponto de apoio para Cachoeira da Lembrada, porta de entrada para o Cânion. Mas não se animem porque o ponto de apoio é apenas um local para deixarmos o carro.
Por lá encontramos o grupo principal desse roteiro: a equipe ‘Alta Aventura’. Convidamos para participarem da reportagem porque possui experiência e certeza de segurança em radicalismo. Até indicaram que fizéssemos aulas de rapel em Teresina antes da viagem para não ter riscos.
E a aula foi mesmo necessária porque íamos encarar caiaque, rapel e mais caminhada. Antes de tudo isso, acampamento porque a noite já chegou!
Barracas armadas, banho a noite na cachoeira (ainda acho que foi a melhor parte até agora. risos) e o descanso veio com o sono.
Já devidamente avisados pelos nossos guias nessa aventura que é desbravar o Cânion do Poti, evitamos o acesso por Juazeiro do Piauí (opção que deixa a estrada carroçal mais longa) e escolhemos o roteiro na estrada que dá acesso a Castelo do Piauí, em um desvio pela BR-343 na altura de Campo Maior. Já na PI-115 seguimos até o entroncamento com a PI-322. Após isso, ainda tínhamos que percorrer mais 20 km até um povoado conhecido como ‘Nova Olinda’.
A região também é de grande importância para o desenvolvimento manufatureiro do estado com o beneficiamento de açúcar e outros subprodutos. Na fazenda de um antigo general do exército, encontramos um grupo bem envolvido com a aventura e com a história da colonização. Eram cerca de vinte cavaleiros que aprontavam os cavalos manga larga para percorrer 30 km de poeira e chapadas até o Cânion do Poti.
“Nosso grupo (Núcleo de Criadores Manga Larga Marchador) é formado por amigos que gostam de cavalgar e de uma boa confraternização. Todos os meses nos reunimos em uma fazenda e aí tem muito churrasco. Dessa vez vamos conhecer essa trilha do cânion”, contou bem empolgado o anfitrião do grupo, Márcio Soares.
O ponto de parada, que deveria ser apenas um descanso, teve que ser o fim para o trajeto a cavalo. A partir dali a viagem seguia na tração 4X4 das camionetas. Mas o que seria o limite para os cavalos, também é o ponto de partida para os mochileiros que querem chegar ao Cânion.
A parada é na Fazenda Enjeitado (foto ao lado), de propriedade do senhor Pedrosa e de dona Lina. O local tem um século de construção. É lá que os mochileiros encomendam um bom almoço e também encontram local para armar redes ou colocar barracas, garantindo uma boa dormida. Boa mesmo porque tem um detalhe que nenhuma agência de viagens poderia oferecer: a conversa, ou melhor, a boa conversa com a família do vaqueiro Pedrosa e dona Lina.
Pedrosa tem 50 anos de vida e muita proeza na lida como vaqueiro. Além de um bom humor, está sempre disponível para conversar. E, achando que vai ficar bem conhecido por causa da entrevista da nossa equipe, posa satisfeito para nossas fotos. “É uma festa só. Eles trazem muito vinho, armam um monte de redes aqui na sala, chegam molhados e fica cheio de barraca no alpendre. É muito bom”, contou o vaqueiro todo empolgado.
Os mochileiros ainda podem conhecer um café típico do Piauí, com água tirada do cacimbão e coado no pano. Sem falar numa galinha caipira e misturada de temperos que é bem falada. “Os grupos trazem a comida e eu faço. Eles pagam meu filho pra ser guia até o Cânion e quando voltam tá tudo feito. Se não trazem a comida, a gente vende galinha ou bode. E damos conta de tudo”, contou dona Lina (sentada na velha cadeira de espaguetes na foto cima). E ela continuou: “ Fica tudo animado. Casa cheia, uma alegria só. Às vezes trazem até violão. Pena que eles só vem duas vezes ao ano”, revelou.
A quem interessar possa, fizemos até pechincha e deixamos acertados com dona Lina: quem tiver interesse ela deixa o quilo da carne por R$ 12,00. O cafezinho vem como cortesia e em grande quantidade, garante ela.
Conversa boa não combina com tempo curto. Então encerramos nossa negociação e brincadeiras e voltamos para estrada. O grupo da cavalgada decidiu usar a tração e seguir com as camionetas.
Esse é o roteiro mais esperado pela equipe. Sabíamos que seria o mais desafiador e, por isso, o mais empolgante. Antes de contar essa experiência, é necessário explicar a dimensão do Cânion do Rio Poti. Trata-se de um fenômeno criado pela passagem do Rio Poti por uma fenda geológica posicionada na Serra da Ibiapaba entre os estados do Piauí e Ceará. Essa fenda criou um cenário de indescritível beleza e ainda semidesconhecida.
A região fica a cerca de 320 km da capital Teresina e está localizada na cidade de Buriti dos Montes. Para ter acesso ao Cânion, o turista precisa partir da sede do município por duas estradas com extensão de 70km cada, porém só trafegam camionetes e veículos 4x4. Também há outras duas estradas, uma pela cidade de Juazeiro do Piauí e outra por Castelo do Piauí.
Apesar das belezas selvagens, inscrições rupestres, da fauna e flora, o caminho não é fácil. Então, pé na estrada!
Início da manhã e nossa equipe tem a obrigação de acordar cedo. Vamos registrar belezas e o cenário rico do Delta do Parnaíba, um arquipélago com 2.700 quilômetros quadrados de área, formado por mais de 70 ilhas, localizado no litoral do Piauí. É nesse local que vamos desbravar curiosidades dos nativos que vivem da cata do caranguejo-uçá, típico da região.
No litoral do Piauí o sol sempre vem acompanhado de ventos fortes causando uma boa sensação e isso torna a obrigação de acordar cedo um tanto ‘agradável’. Conseguir ver espelhos d´água, mangues, dunas, lagoas, animais silvestres, rios e praias com paisagens paradisíacas é realmente encantador.
Inicialmente vamos para a cidade de Parnaíba, distante 318 quilômetros de Teresina. Atravessamos a ponte sobre o Porto das Barcas e tão fácil logo alcançamos a “Ilha Grande de Santa Isabel” e aí, como diz o típico piauiense, é só “seguir a vida toda direto” até a igreja. As placas indicam que o passeio ao Delta está próximo dali e um guia de turismo já nos aguarda.
Sem dificuldades chegamos ao Porto dos Tatus, porta de entrada da nossa trilha no Rio Parnaíba. No porto a via é estreit a e há opções para guardar os veículos em estacionamentos que cobram até R$ 5,00 por dia.
Para quem não tem veículo próprio, partindo da Feira do Quarenta, em Parnaíba, até a cidade de Ilha Grande há opções de transporte coletivo que cobram até R$ 2,00 no trajeto de 21 minutos.
Já dispostos encontramos nosso guia chamado apenas de ‘Didi’. Bem conhecido e entendedor dos segredos da região, ele já é convidativo: “Vamos naquela lancha que é maior. Dá pra gente ir bem folgado”, adianta. Já concordando, eu (Dennis Arias), Alan Garcia (repórter), Renato Muniz (cinegrafista) e nosso auxiliar técnico (Raimundo Santos) nos acomodamos.
As lanchas são o principal transporte do Delta do Parnaíba, sendo comum encontrarmos os moradores chegando e saindo do porto.
Para os turistas a opção de fretar uma lancha custa entre R$ 300 e 650,00 dependendo da capacidade de ocupantes (entre seis a10 pessoas) e do trajeto, onde o mais caro inclui visitação a Ilha dos Guarás, ave símbolo que faz uma revoada na região que é de encher os olhos.
Embarcações maiores cobram, em média, R$ 50 por pessoa incluindo almoço com caranguejada na metade do passeio que dura uma manhã e tarde inteiras. Na nossa equipe a emoção maior é do Alan, alagoano que visita o Delta pela primeira vez.
E tem mesmo muito o que se ver. Pelo labirinto formado por 75 ilhas, a vegetação de manguezal e as aningas (plantas típicas na formação de ilhas) nos acompanham. Também é fácil contemplar as dunas de areias que contornam o trajeto.
No ambiente alagado e úmido, típico de áreas de transição com regime de marés, o caranguejo-uçá encontra um ambiente propício para habitar e reproduzir nos manguezais. A presença deles é uma atração para os turistas. No meio do percurso um susto curioso: o “Homem Lama”! Trata-se de um nativo que aproveita as lendas locais para atrair turistas e “descolar umas moedas”. Ele arranca sorrisos facilmente, principalmente entre as crianças!
Resolvemos seguir! Nosso guia alerta que o tempo é limitado porque as águas do Rio Parnaíba, mais conhecido como “Velho Monge” baixam por causa da maré e podemos ficar ancorados em bancos de areia. Nosso motor dispara e chegamos até as canoas que estão ‘estacionadas’ nos manguezais. Por um dia vamos encarar a rotina dos catadores de caranguejo.
Quem nos aguarda é o senhor Antônio Cardoso, especialista em achar o caranguejo. Ele nos apresenta uma técnica que aprendeu ainda quando criança. “É importante acompanhar as marcas das patas e observar as bolhas que surgem na lama. Esse é o sinal que tem caranguejo na toca”, explicou.
Segundo o Instituto Chico Mendes, que faz a preservação ambiental do Delta, pelo menos 2.500 famílias vivem da cata do caranguejo.
Eles enfrentam mosquitos ‘selvagens’ e usam lama para proteção (a ideia do “Homem Lama” não é tão anormal assim), mas recomendamos mesmo é um repelente de grande efeito.
E para conseguir andar no manguezal, pisando em raízes pontiagudas, um segredo que só o senhor Antônio lembrou: “para conseguir andar na lama é melhor ir com um calçado leve para não afundar, além de não furar o pé”, contou o catador. Isso realmente faz uma baita diferença!
Os catadores usam a sabedoria popular que virou uma meta para proteção ambiental: só pegam os caranguejos machos para garantir a reprodução. A diferença de gênero está no abdômen, onde a parte inferior da carapaça do macho é menos achatada.
Para conseguir o caranguejo, o catador experiente percebe as bolhas de ar ou os rastros na lama. Muitas vezes é necessário “afundar” o braço para chegar a toca.
Com o esforço e a presença intensa de mosquitos, o trabalho do catador já é o suficiente para o dia. A fome chega e o caranguejo é a opção para saciar a vontade. O preparo é feito ali mesmo, com uma fogueira improvisada de galhos colhidos no manguezal, mas o costume de comer o caranguejo cozido é uma regalia que não existe por aqui: o jeito mesmo é fazer churrasco dele!
Nosso guia alertou que o tempo é limitado. Não tinha como a lancha encostar e o jeito foi pedir uma carona aos catadores. Um trajeto que dá direito como cortesia uma conversa bem interessante.
De volta ao Porto dos Tatus já encontramos vários catadores vendendo a produção do dia. Cada corda com quatro caranguejos é comercializada por R$ 3,00 (bem diferente dos R$15 cobrados nos restaurantes da região), com isso os catadores conseguem cerca de um salário mínimo por mês.
Nessa visita conferimos curiosidades, mas também aprendizados. Mesmo com pouca escolaridade, a sabedoria dos catadores trabalha junto com os biólogos para obter a mesma intenção: “conviver e deixar a natureza sempre viva”, disse Silmara Erthal, responsável pela Área de Proteção Ambiental do Parque.
“Nós temos essa preocupação com a extração de caranguejo e queremos que essa atividade continue por muitos e muitos anos, na verdade para sempre. Mas podemos fazer esse trabalho sem agredir a natureza e essa é nossa meta diária”, finaliza Silmara.
Quer ver o final dessa aventura? Assista a íntegra da reportagem exibida no Piauí TV 1ª Edição:
Nossa aventura começa na cidade de Luís Correia, litoral do Piauí. A viagem de 338 quilômetros partindo da capital Teresina começa ao amanhecer do dia: às 5h da manhã. O cinegrafista Renato Muniz, repórter Alan Garcia, eu (editor Dennis Arias) e nosso auxiliar técnico Raimundo Santos sabíamos que o dia prometia muito cansaço e experiências novas. Na estrada, o sol já nos aguardava para companhia.
Seguindo pela BR-343 até o município de Luís Correia, boa sinalização e asfalto em ótima qualidade. Na região, nosso primeiro compromisso era a pesca do camarão branco que tem o tamanho até cinco vezes maior que o tradicional e ganha mais valor de mercado. Segundo os pescadores, ele é tido como “raro”.
Já em Luís Correia, nos dirigimos para a colônia de pescadores. Lá, o senhor Rafael Silva nos esperava para apresentar o seu dia a dia. Apesar de termos chegado com uma hora de atraso, o pescador com 20 anos de experiência nos recebeu de braços abertos e já foi avisando: “O vento está bem forte. Vai ter sacolejo e será bem mais fácil de encontrar o tão procurado camarão branco”.
É! Nós realmente estávamos com muita sorte!
Chegando no ‘Porto do Zenel’ entramos no barco. Uma navegação de médio porte com uma cobertura para o condutor e um espaço improvisado para receber nossa equipe.
Nossa preocupação é com boas imagens e a proteção para o equipamento, muito sensível a água. Ainda tínhamos duas milhas náuticas para avançar em um percurso que inicia no Rio Parnaíba e segue até o encontro com o mar próximo a praia Pedra do Sal, já limite com a cidade de Tutóia, no estado do Maranhão.
Mais embarcações dividiam o espaço. Pelo rádio de nossa cabine pudemos conversar com outros comandantes e já nos avisaram: “Tá ruim para pegar camarão hoje”, mas o senhor Rafael desconfiou: “Acho que estão enganando. Vamos insistir”, disse.
Além do comandante, outros três pescadores nos acompanharam. Normalmente, eles dividem entre si tudo que é retirado do mar. Para a captura do caranguejo, jogaram na água um pedaço de madeira envolto da rede e só recolheram após duas horas. Nesse intervalo, o motor ganhou arranque e o sacolejo ficou ainda mais frequente.
Ruim para o equipamento e pior ainda para o cinegrafista Renato Muniz: saldo de uma queda de joelhos dentro do barco, enjoo e uma boa história para contar!
Para quem enjoar dentro de embarcações uma dica que aprendemos com outros pescadores com experiência de 40 anos no mar: “Para tirar a ‘embriaguez’ do sacolejo tem que tomar banho de água salgada. Por isso, a gente já deixa um balde aqui”, explicou o pescador Edimilson Ramos. Após o banho, o cinegrafista Renato Muniz confirmou em bom piauiês: “Agora estou bonzinho”.
Mãos firmes que é hora de trabalhar! Chegou o momento mais esperado: recolher a rede de pesca e quem sabe conseguir o tão raro camarão branco. Para tripulação é importante ficar atento com tantas cordas que são mobilizadas. Um motor faz o trabalho pesado e puxa o arrasto que vem repleto de algas que se desprendem do fundo do mar por conta dos ventos fortes. Além delas, vieram peixes curiosos, arraias de vários tamanhos e vários tipos de camarão, incluindo o camarão branco.
Depois de cozinhar o crustáceo dentro do barco em um fogareiro, retornamos ao Porto do Zenel. Nossa surpresa foi encontrar barcos estrangeiros que aproveitavam a calmaria da água e a posição estratégia do nosso litoral para circular pelo continente americano.
Os pescadores que nos acompanhavam confirmaram que o roteiro é bem atrativo para quem vem de outro país. “Muito gringo vem pra cá. Eles atracam o barco no rio e aproveitam a tranquilidade da região. Eles gostam muito daqui”, contou o pescador Edimilson Ramos.
Com o dever cumprido seguimos para o desembarque. Ainda temos a cata do caranguejo no Delta do Parnaíba para investir nosso esforço, mas também é preciso manter a sorte.
E por falar em sorte, os pescadores contam com ela todos os dias, principalmente na segurança: “O Porto do Zenel está todo quebrado. Os governantes não dão apoio para nós que vivemos do mar. Nós mesmos nos juntamos na colônia para reparar as madeiras que estão velhas. Do jeito que está, é bem fácil cair e ficar ferido”, disse Rafael Silva.
Neste primeiro dia de viagem nós percorremos também as trilhas do mar. Apesar da improvisação do porto, a viagem pelas águas do nosso litoral vale uma visita com direito a belezas naturais e uma brisa inesquecível.
Agora seguimos para outro desafio no Delta do Rio Parnaíba, um arquipélago com 2.700 quilômetros quadrados de área, formado por mais de 70 ilhas, o único em mar aberto das Américas. Essa aventura também renderá várias histórias para contar.
Fonte: G1