A
imprensa estadual noticiou que o município de Parnaíba obteve o maior
crescimento do PIB no país. O fato foi festejado pela atual administração como
uma obra do governo. O prefeito celebrou, deu entrevistas. Foi aquela festa! Para
agradar o chefe, foi um “compartilhar” intenso nas redes sociais sobre a
matéria que diz ser a Parnaíba a nova “Filadélfia”, sem esquecer o detalhe:
graças aos gestores de agora!
É
verdade que avançamos economicamente na última década. Porém não foi um fato
isolado do contexto nacional. Cidades antes menores que Parnaíba, mas de igual
potencial seguiram na mesma balada e superaram-nos: Petrolina, Sobral, Mossoró.
O que será que fizeram por lá? Devíamos aprender...
O
crescimento do PIB se deu, notadamente impulsionado pelos investimentos
privados de empresas que ampliaram suas atividades, outras novas que aqui se
instalaram, pela expansão do Campus Universitário, explosão da construção
civil, muito menos pela ação governamental local.
A
partir daqui vamos entender a festa. Temos mesmo o que comemorar ou seria
prudente cuidar da nossa gente? Faz o governo municipal o que se propôs a fazer
ou o que se esperava que fizesse?!!!
PIB é a sigla para Produto Interno Bruto,
e representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços
finais produzidos numa
determinada região, durante um período determinado. O PIB é um dos indicadores
mais utilizados na macroeconomia, e tem o objetivo principal de mensurar a
atividade econômica de uma região. É um pouquinho complicado, mas vamos tentar
entender.
Recorremos
ao Profº Dr. Ladislau Dowbor da PUC/SP, formado
em economia política (Suíça); Doutor em Ciências Econômicas (Varsóvia,
Polônia), consultor da ONU, “o PIB é uma cifra que, tecnicamente, ajuda a medir
a velocidade que a máquina gira, mas não diz o que ela produz, com que custos
ambientais e nem para quem”.
Para
ele “o tamanho do PIB só revela o montante do dinheiro usado e não a qualidade
desse uso”. Para entender: quando são jogados pneus,
carcaças de fogão e todo tipo de lixo pela cidade e isso obriga a prefeitura a
contratar uma empresa de limpeza urbana, isso aumenta o PIB. Quando aumenta a
criminalidade, mais gente compra grades, cadeados e contrata gente que apita na
rua, isso está aumentando o PIB. Quando se melhora o nível de saúde da
população e crianças adoecem menos, compram-se menos medicamentos e há menos
hospitalização, ocorre redução no PIB. Logo, o PIB não mede resultado, mede a
intensidade de uso dos recursos e as pessoas pensam que o PIB é bom porque o
associam ao emprego.
O
PIB não é indicador de riqueza, inclusive ele não mede sequer a riqueza. Porque
para medir riqueza, se mede patrimônio. Nosso PIB não mede os US$ 520 bilhões
de fortunas brasileiras em paraísos fiscais e não mede inclusive, a
concentração do patrimônio, de quem controla a terra, de quem é dono de qual
parte do país, por exemplo.
Colocando
mais carros e mais motos nas ruas de Parnaíba, onde o trânsito dá sinais de uma
cidade em breve paralisada (não há planejamento em engenharia de tráfego),
gastando mais gasolina aumenta o PIB, mas não está melhorando a situação das
pessoas. Quando apenas se mede quantos carros e motos foram vendidos e quanto
dinheiro circulou durante o ano e não o estoque, tem-se o Produto Interno Bruto.
Quando
se investe em saúde preventiva e ajuda com que as pessoas não fiquem doentes,
não se aumenta PIB, ao contrário. A Pastoral da Criança, por exemplo, é
responsável por 50% da queda da mortalidade infantil no país e isso não aumenta
PIB, o que aumenta PIB é a compra de remédios, contratar ambulância e serviços
hospitalares. Na realidade, o PIB é uma cifra que, tecnicamente, ajuda a medir
a velocidade que a máquina gira, mas não diz o que ela produz, com que custos
ambientais e nem para quem.
Dowbor
nos lembra que outros países, inclusive os europeus, estão usando indicadores
para medir o desenvolvimento que não se
baseiam apenas na quantidade de dinheiro, mas na qualidade de vida que os
gastos proporcionam, “uma espécie de Índice de Felicidade Bruta”. Estamos
nós num paraíso?!
Não
contesto o crescimento do PIB em nossa cidade. Firulas à parte deveria o
governo municipal fazer o seu dever de casa. Olhem ao redor das avenidas São
Sebastião e Pinheiro Machado. Saiam delas. É preciso conhecer, para tanto tem
que ir lá. Qual a última vez que vocês (da gestão municipal) foram ao Chafariz?
Lá falta água para beber, a estrada está esburacada, o Posto de Saúde foi
fechado ainda na administração anterior. E o Parque Zé Estevão? Esse sim é o retrato
do abandono, da ausência plena do poder público..., estes rápidos casos
exemplificam a miséria em que vive a maioria dos parnaibanos.
Finalizando,
neste município de destacado PIB, quais os investimentos no desenvolvimento do
nosso capital social? Qual o padrão do atendimento dos nossos serviços públicos
municipais? Qual a política pública em atividade que zela pelo cidadão? Dever-se-ia
era ter mais espírito público e decência!
(*)
Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.