Talvez o único equívoco deste pequeno grande documentário seja seu título. Deve ser porque eu entenda a cegueira, essencialmente, como uma antagonista da sensibilidade. Quem de nós, afinal, consegue enxergar o amor de um cão ou a liberdade de um pássaro? Quem vê as coisas como (não) são e ainda sim vai a luta sem (e com) medo?
Objeto e Observador: Há um trem bala no
caminho. Há uma tartaruga idosa junto a ele. O trem bala está perdendo.
Sentir é muito lento. É a velha máxima do ponto de fuga que existe na
iminência das perspectivas do horizonte e da dimensão. E pela cláusula
única do contrato do futuro, somos todos cegos pelo próprio destino.
Portanto, atribuir cegueira a qualquer pessoa é redundância.
Ademais, a TV Bonomia,
com sua proposta documental e profunda, nos traz à luz da reflexão sobre
o modo que tratamos os ditos marginais de uma sociedade cada vez mais
ávida por adequação. Nesse pressuposto, Ivan é quase um Profeta
Gentileza sem literatura. Sua grandeza está nos gestos. E a rua é, de
fato, seu maior legado. Ivan é um pergaminho invisível onde a vida vai
tatuando seus entretantos, todos os dias. Seja no centro da cidade, na
loteria da Presidente Vargas, seja na rodoviária, enquanto os notívagos
se alimentam de encontros e despedidas.
Ivan é um mundo onde tudo o que se precisa pra viver é sonho, coragem e coração.
Documentários: TV Bonomia/Matéria: Parnaíba Criativa