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24/02/2015

Piauí é um dos principais e maiores exportadores de trabalho escravo


Em meio ao século XXI, em que o mundo está cada dia mais globalizado e a tecnologia em constante inovações, ainda é possível encontrar casos de pessoas que vivem em situação análoga ao trabalho escravo.

Só no Piauí, já foram identificados, nos últimos seis anos, 306 trabalhadores escravizados e só em 2014 foram resgatados cerca de 160 trabalhadores na extração de carnaúbas, na região de Picos, Luís Correia, Oeiras, Parnaíba e Assunção do Piauí.

Atualmente, o Estado é um dos principais exportadores de mão de obra escrava e a maioria deles não percebe a real situação de trabalho. 

Para melhor articular a fiscalização trabalhista com os trabalhadores urbanos e rurais, que podem estar em situação de trabalho escravo, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Piauí (Fetag/PI), junto com os Sindicatos locais, estão realizando nos dias 23 a 26 deste mês a Oficina de Formação de Multiplicadores/as no Combate ao Trabalho Escravo.

Antônio Melo, representante da OIT no Estado, explica que, com as reuniões, espera-se que ocorra uma sensiblização sobre o tema e que as informações sejam levadas para todos os municípios.

“As reuniões são voltadas, principalmente, para os sindicatos e pessoas ligadas aos trabalhadores. A ideia é que a gente forme multiplicadores, que voltem aos seus municípios e façam uma sensibilização sobre o tema trabalho escravo e como denunciar. A ideia é que o sindicato seja um grande parceiro da fiscalização do trabalho para criar e acatar o maior número de denúncias”, explica Antônio Melo.

O representante da OIT no Estado revela que o Piauí é um dos principais exportadores de trabalhadores escravizados do país. “No Piauí, os resgates que aconteceram, de 2008 até o momento, são relativamente modestos. Foram contabilizados 306 atuando no Estado.

Apesar de não ser tão acentuado esse número, até então, o Estado é um dos principais exportadores de trabalho escravo do país, indo para outros Estados, como Mato Grosso, Bahia, São Paulo, Minas Gerais e Paraná, para atuar na agricultura, pecuária e até naconstrução civil”, aponta Antônio Melo.

Segundo Manoel Simão, representante da Fetag/PI, o trabalho escravo não é apenas aquele em que há casos de maus-tratos físicos, mas também o ato de discriminar ou reduzir o indivíduo.

“Apesar da maior incidência ser na zona rural, o trabalho escravo está em todos os lugares. E é importante que se saiba o que é trabalho escravo e quem participa dele. O trabalho escravo não consiste apenas em ser maltratado ou pisado, mas também, uma palavra pode machucar, o ato de discriminar e diminuir a pessoa”, explica Manoel Simão.

Trabalhadores escravizados não têm consciência da condição

Apesar das péssimas condições de moradia e trabalho, muitos trabalhadores, ludibriados por uma oportunidade de trabalho fixo, não sabem ou não se dão conta da real situação a que estão enfrentando. Alguns até se dão conta, mas por estarem envoltos a dívidas, ficam impossibilitados de deixar o posto de trabalho.

O perfil destes trabalhadores é, geralmente, homens, entre 18 a 45 anos de idade, com baixa escolaridade e que começaram a trabalhar muito cedo.

De acordo com Antônio Melo, representante da OIT do Piauí, essa população tem vivido em más condições, por exemplo, vive em lonas no meio do pasto, bebe água suja, se alimenta mal, e, ainda, para sobreviver, alimenta-se de carne da caça.

Em troca da mão de obra, recebe uma quantia bem abaixo do combinado e, para sobreviver, são cercados por dívidas implantadas pelos próprios exploradores. E garante, ainda, que eles não percebem a exploração em que estão vivenciando.

“Em geral, eles não sabem o que é trabalho escravo e não se sentem nessa situação. Quando eles são resgatados, muitas vezes tendem a se contrapor à própria fiscalização do trabalho.

Como eles não têm qualificação nem trabalho próximo da residência, têm uma tendência a ver a fiscalização como alguém que está tirando deles a garantia de uma renda fixa.

E não é bem assim. Mas depois que começa a conscientizá-los, você nota que eles não queriam estar naquela situação desestruturante”, esclarece o representante da OIT do Piauí.

Fonte: Meio Norte

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