18/03/2015

A iniquidade e a ressignificação dos protestos de 15 de março! (*)

Pouco mais de dois meses após o início do segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff (PT) enfrenta uma onda pró-impeachment que começou na web, mas já ganhou as ruas. 

No último dia 15 de março milhares de pessoas se manifestaram em diversas cidades brasileiras para protestar contra o Governo Dilma. A revolta das pessoas encontra justificativa no aumento da tarifa de energia elétrica, aumento do preço da gasolina, dólar subindo e elevação de impostos (com pequeno surto inflacionário). São medidas que atingem, em cheio, as "elites” – leia-se: as classes que pagam imposto de renda. Isso se avoluma em função da confusão política em torno do conflito de Dilma com o Parlamento e as notícias escandalosas da corrupção de empreiteiros no caso da “Operação Lava Jato”.

A Presidente Dilma, dias antes vai à TV em rede nacional pedir “paciência” aos brasileiros, reconhece que há uma crise, porém “não do tamanho que os adversários propagam”. Na essência da sua fala não trouxe nada de novo. Deveria como chefe maior da Nação dizer quais as medidas que o próprio governo passará a adotar para combater a corrupção, melhorar os serviços públicos, enfim atender as demandas sociais. Para complicar ainda mais a sua situação, durante seu pronunciamento, foi orquestrado um “panelaço”. Registro de insatisfação de muitos brasileiros com a governante, em várias cidades. 

Como resposta de apoio ao governo e na tentativa de enfraquecer os protestos, a Central Única dos Trabalhadores – CUT, o MST e o Partido dos Trabalhadores, fez uma manifestação no dia 13 de março. Não foi bem como eles queriam, fracassou, registrou-se pouca participação.

É preciso ver o que move os dois lados, qual a defesa e os seus interesses. Na verdade não dá para esconder que o governo está num momento delicadíssimo. O segundo mandato de Dilma é um desastre. A composição do seu governo é servida, em muitas áreas, pelo que há de mais ruim no atual sistema político. Ajustes econômicos desastrosos e articulação política incapaz de dialogar com o Congresso Nacional. 

O PT hoje prova do “próprio veneno”, foi quem mais disseminou as manifestações pela legitimidade da liberdade de expressão e a defesa da democracia. Gritou pelas ruas “Fora Collor” e depois bradou por 8 anos “Fora FHC”. Os petistas se articularam num uníssono ataque aos protestos: “impeachment é golpe; é coisa das elites; não há respaldo jurídico; é coisa da Rede Globo; quem foi pra rua é exatamente quem não votou na Dilma”. Afinal não pode o povo externar seu descontentamento com o governo petista?

A verdade é que, grande parte de quem votou e de quem não votou está descontente, por motivos diferentes, mas descontentes. Toda manifestação é legítima. Espera-se que o Brasil de fato aprenda a ir para as ruas com mais frequência. Reivindicar os seus direitos e manifestar a sua indignação de forma civilizada e ordeira é o bom sinal da liberdade. Liberdade que precisa ser estimulada e respeitada.

O “Fora Dilma” mesmo sem base jurídica é um grito difuso de indignação e não pode ser ignorado.

O sistema político da forma como ele está engrenado é a raiz de grande parte dos problemas da nação brasileira, especialmente da corrupção. Como não admitir que o povo grite contra o atual modelo?

Após os protestos Dilma falou: “Ao ver centenas de milhares de cidadãos não pude deixar de pensar e tenho certeza de que muitos aqui concordam comigo, valeu a pena lutar pela liberdade, pela democracia. Este País está mais forte que nunca”. Não cabia mais um discurso, ainda mais quando este é de autopromoção. Esperava-se que o governo apresentasse uma proposta de maneira sintética e factível na direção da construção de um modelo de estado e sociedade que supere as injustiças, deficiências e enfrentamentos acumulados no passado e seja possível encontrar caminhos de solução, equidade e progresso. 

Ao invés de culpar a mídia, as elites e os adversários o PT e o Governo Dilma deveriam se afastar da iniquidade que os invade. Não sentir culpa pelos erros cometidos e achar que tudo o que faz é absolutamente correto e normal tem um preço e eles estão pagando por estes erros.

Ante a descaracterização tentada pelo governo, o movimento tem apelo fundado nos erros do PT.

Nós brasileiros e brasileiras necessitamos e merecemos viver melhor. O objetivo final da política e o papel do Estado deve ser conduzir as decisões, canalizar os recursos e enfrentar os conflitos e as dificuldades sociais de maneira que se logre garantir o máximo bem-estar a todos os cidadãos e cidadãs. 

Neste momento, o que se espera é a reorientação da ação do governo, a ressignificação do “Fora Dilma”, de forma a atender a pauta das reivindicações, operando uma separação entre a legitimidade dos manifestantes pacíficos, imbuídos de valores cívicos dos oportunistas com motivação política. Não deve o governo desqualificar os protestos sob as justificativas até aqui lançadas ao vento!

(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.

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