Não há nada mais conservador que aquele político que se apresenta como não político. Não há nada mais à direita que aquele político que se apresenta como não sendo nem de direita e nem de esquerda. Não há nada mais velhaco politicamente que partidos políticos que não se reconhecem como tal. E não há nada mais velho, em política, de que o discurso da nova política que aparentemente se insurge, de forma voluntarista e oportunista, contra os desmandos da velha política. É assim que se “renova” a política da Parnaíba! “Eu vejo o presente repetir o passado...”, escreveu um dia o jovem Cazuza.
Eleito prefeito em 2012 com o discurso da modernidade, da seriedade e da transparência, Florentino Neto (PT) desaponta uma boa parcela da população. Transcorridos mais da metade do seu mandato somente aqueles que ganham por bajular encobrem a nuvem da inércia que tem se tornado o seu governo. Se administrativamente vai mal, politicamente procura cometer o crime perfeito: matar a política fingindo que não faz política. Não propõe nada de concreto, para além da extraordinária e inédita proposta de se fazer o bem. Só discurso. Por tal razão, seu discurso é cuidadosamente vago e dúbio.
Florentino no seu primeiro ano de governo dizia que tinha feito contenção de despesas para alimentar um caixa para as obras que seriam realizadas no ano seguinte. No final daquele ano (2013) chegou a divulgar que tinha R$ 40 milhões em reserva para transformar a cidade num canteiro de obras.
Em seu mandato, vez por outra foi à imprensa falar e anunciar obras importantes para a cidade: Veículo Leve sob Trilhos (VLT), usina de asfalto, conclusão do matadouro, drenagem das águas pluviais do bairro Piauí (piscinão das ruas Oeste, Carpina e Anhanguera), recuperação do centro histórico (PAC das Cidades Históricas) Centro Cultural BNB, retomada das obras do DITALPI, shopping dos camelôs, “vila do leite”, dentre outras. Mas, já se passaram dois anos e dois meses e nada foi concretamente realizado. São projetos e como tal deveriam ser tratados, importantes que são para o presente e o futuro.
Garganteia dizendo que o seu governo trouxe os voos regulares ao nosso aeroporto, é o grande responsável pela implantação do curso de medicina na UFPI, a cidade teve o maior crescimento do PIB nos últimos anos graças à sua gestão. Faz exatamente o mesmo que, recentemente, condenava nos gestores que o antecedeu: traz para si o mérito exclusivo de ações que são levadas a cabo pelo esforço conjunto de muitas pessoas. Esquece-se de reconhecer o crédito de quem também lutou por estas conquistas. É muita gente!
Outro dia ao retornar de Brasília anunciou a garantia de que vão ser liberados ainda neste semestre, recursos na ordem de mais de R$ 38 milhões, do PAC das Cidades Históricas para recuperar o Complexo Turístico Porto das Barcas – Museu do Mar, as igrejas Nossa Senhora da Graça, Nossa Senhora do Rosário, Capela de Nossa Senhora do Montserrat; o Casarão da Escola de Direito Miranda Osório, Antigo Sobrado Dona Auta e Sobrado do Museu Simplício Dias. Agora é só o dinheiro cair em conta.
Nossa torcida é dobrada. Primeiro que o recurso chegue, segundo que realize as obras!
O prefeito novamente anda a anunciar a aquisição de uma fábrica de asfalto prometida ainda no início de seu governo. Desde agosto de 2013 que a Câmara Municipal aprovou a solicitação para contratar junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social – BNDES, o valor de R$ 2.890.447,34 (dois milhões oitocentos e noventa mil quatrocentos e quarenta e sete reais e trinta e quatro centavos) para serem aplicados na aquisição de máquinas e equipamentos no âmbito do programa PROVIAS (Programa de Intervenções Viárias), para possibilitar a viabilização de uma usina de asfalto para o município.
Como se vê o atual governo ainda não respondeu às expectativas que ele mesmo criou. É preciso que cuide ao menos dos projetos urgentes no presente como: o abandonado matadouro, o piscinão do bairro Piauí, os banheiros do São Vicente de Paula, o aparelhamento e melhoria dos postos de saúde, o deplorável mercado da Caramuru, o caótico transporte público, a regulamentação dos mototaxistas, o cuidado com as praças, a engenharia de tráfego e a educação para o trânsito, o tratamento de dependentes químicos, o aparelhamento e melhoria das escolas, o combate às drogas, a falta de creches, o esporte e o lazer juvenil, tudo isso era parte do seu Plano de Governo. Foi discurso. Tá escrito!
A administração é maquiada, não transforma, não emancipa, não educa! Não é capaz de cuidar do trivial. Faz muito pouco diante um orçamento anual de 320 milhões. Apresenta-se como uma encadernação vistosa para iletrados! Uma boa capa, muitas figuras, mas pouco conteúdo!!!
O discurso é de uma gestão idônea, que trabalha o orçamento participativo, faz licitações transparentes. Trata-se de um discurso que não é “falseável”, no sentido que Karl Popper dava ao termo. Isto é, não é um discurso que tenha enunciados testáveis. É um discurso que está além da argumentação racional.
Resumindo: um município como Parnaíba, urbano, complexo, assimétrico e sem industrialização, jamais poderá desenvolver-se sem um projeto autônomo construído a partir de interesses endógenos.
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.