20/03/2015

Pedófilos virtuais do PI agem livremente aliciando crianças e adolescentes em chats e redes sociais

Conheça as histórias escabrosas dos pedófilos e tarados virtuais de Teresina


Vulneabilidade de crianças e adolescentes frente ao computador. Foto: João Alberto / O Olho.

Melissa Sousa tem 12 anos. Ela reside em um apartamento de pouco mais de cem metros quadrados no bairro Morada do Sol (zona Leste de Teresina). É filha única. É bem curiosa. Vive em conflitos com o pai, um funcionário público federal, separado e com menos de 40 anos.

As constantes discussões são causadas pelas negativas em ser presenteada com um telefone celular que proporciona acesso a Internet. Se quiser contatar com amigas e amigos da escola tem de se comunicar pelo computador, instalado em seu quarto. É a única maneira de acessar o mundo virtual.

Melissa nunca estudou em escola pública, jamais ficou de prova final. Atualmente cursa o nono ano em uma das melhores instituições escolares da zona Leste de Teresina – tida como a zona em que mais moram ricos na cidade. É considerada uma boa aluna também em termos de comportamento.

A garota, que ainda é BV (termo de boca virgem, relacionado a quem nunca beijou na boca) tem Facebook. Ao contrário da maioria das amigas não tem Instagram, Twitter e nem o febril Whatsapp.


Perigos do teclado. Foto: João Alberto / O Olho.

Virtualmente Melissa Sousa adiciona pessoas via sua conta no Facebook. Entre seus 475 “amigos” pelo menos metade ela nunca viu na vida. Alguns são adultos e têm mais de 25 anos. Há sete com idade de ser seu pai.

Melissa só criou Facebook quando fazia o sétimo ano. A adesão ocorreu após um trabalho da disciplina de Informática. Ela também usa a Internet para ver materiais da escola, participar de grupos de discussão.

Entre o estudo de quase uma dezena e meia de matérias passa seu tempo livre entre a Internet e idas e vindas aos dois shoppings da cidade. Ela adora um fast food. Seu preferido é o McDonald´s e os presentinhos dados para quem compra o McLanche Feliz.

Esta semana Melissa decidiu conhecer uma novidade que algumas colegas de colégio já tinham falado: uma sala de bate-papo (também conhecida por chat). Ela tinha sido alertada o quanto pode ter de gente estranha, legal e até tarada nesse tipo de lugar virtual.

Após mais uma discussão com o pai por alegações de que ele quer controlar sua vida, brigaram e ela se trancou no quarto.


Redes sociais e pedófilos: perigo para crianças e adolescentes. Foto: João Alberto / O Olho.

O motivo da última peleja foi que novamente o pai de Melissa não lhe dera um smartphone como o da amiga Amanda, que custou R$ 2.800.

Acessou a Internet e viu alguns sites. Lembrou que as amigas tinham avisado sobre a sala de bate-papo.

Entrou às 22h51 de um dia de semana em uma sala do Bate-Papo UOL (o mais famoso do gênero no Brasil). Entre as várias opções (inclusive com salas exclusivas para sexo e outros temas específicos) escolheu a Sala Teresina 4 (de bate-papo geral). Tinha nove pessoas no momento. Todas se identificando com nomes masculinos.

Melissa não existe. Ela foi inventada pela reportagem de O Olho no intuito de fazer um teste, entrando e conhecendo mais o mundo e submundo das conversas e aliciamentos virtuais. Tentou-se também entender o que são as salas de bate-papo e se há perigo de crianças e pré-adolescente lá estarem.

Enquanto foi Melissa, o repórter-colaborador de O Olho descobriu o quanto crianças e adolescentes estão vulneráveis em salas do tipo, bem como podem ser facilmente aliciadas.


Intimidades são expostas em segundos. Foto: João Alberto / O Olho.

Em questão de segundos são convidadas a exporem intimidades para desconhecidos, muitos deles, confessos, de que só usam esse tipo de comunicação virtual para procurar sexo e diversão fácil, independente de idade da interlocutora.

Foram várias conversas, nenhuma iniciada pela personagem virtual. Todas as abordagens foram feitas pelas outras pessoas. E sempre a menina fez questão de dizer sua idade e contar a mesma história, relatada acima.

Poucos quiseram saber os motivos dela usar a sala de bate-papo, a maioria mesmo queria era saber como era o seu corpo, se já havia beijado, transado e até se “curtia” mulheres ou estava afim de ganhar dinheiro com um programa sexual.


Mundo de liberdade e de perigos. Foto: João Alberto / O Olho.

Em pouco mais de uma hora foram quase cem pessoas entrando e saindo na sala de bate-papo. Foram quase 30 interpelações, a maioria vindas de pessoas que se identificaram como sendo homens adultos, a maioria com idades entre 30 e 40 anos, alguns deles confessando ser casados ou habituais frequentadores de salas do tipo. Mas a maior surpresa foram as cantadas e insinuações de uma pessoa que se identificou como mulher e, insistentemente, tentou aliciar a garota.

AS RECEPÇÕES E INTERPELAÇÕES

Três segundos depois de entrar na sala Melissa já recebeu a primeira interpelação. Era a pessoa que usava o nome “Advogado Afim”. Ele perguntou se a menina queria dinheiro. Fingindo-se não entender a pergunta, Melissa respondeu apenas com um sinal de interrogação.

 
Menina entra na sala e já é abordada por convite para ganhar dinheiro com sexo. Foto: Reprodução do Bate Papo UOL.

Fonte: Portal O Olho

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O tal “Advogado Afim” continuou a insistir com a proposta, insinuando que estava a fim de pagar para obter sexo. Mesmo perguntando a idade da interlocutora, prontamente respondido que era 12 anos, ele continuou com a proposta de pagar por sexo. Disse que tinha quase 40 anos. Foi ignorado depois de questionar porque Melissa era solteira e se tinha Facebook.

Quatro minutos depois três outras pessoas também tinham abordado virtualmente a menina. Sempre com um “oi” ou um “olá”. Sete minutos depois seis perfis disputavam a atenção dela. As segundas perguntas eram sempre se Melissa realmente tinha 12 anos. Estrategicamente, para saber até onde iria a conversa, dizia que sim e que era a primeira vez que frequentava uma sala de bate-papo.

Não demora muito e mais propostas para sexo. Foto: Reprodução do Bate Papo UOL.

As terceiras perguntas dos primeiros que abordaram a menina, e de quase todos os outros 30, sempre eram para saber em que lugar ela estava da casa e se estava sozinha e em qual lugar ficava o pai dela.

Geralmente as conversas começavam a esquentar por parte dos homens assumidamente interessados sexualmente na garota quando a mesma respondia que estava ali porque tinha brigado com o pai.

Era a isca perfeita para os marmanjos (ou ditos) começassem a perguntar sobre se ela já tinha beijado, ficado e transado e sempre fazendo convites para visualizar na webcam (câmera).


Alerta sobre a existência de pedófilos. Foto: Reprodução do Bate Papo UOL.

As interpelações eram das mais variadas. “Fazendeiro Fiel” começou chamando de princesa. Perguntou se a menina realmente tinha 12 anos. Respondido que sim foi perguntado a sua: “19 anos”.

Um dos mais incisivos por atenção era “Vigilante” querendo ver a menina pelo sistema de webcam. Ao ser informado de que a menina não podia aparecer, por causa que o pai poderia brigar, continuou insistindo. “Não tem problemas de você ter 12 anos”.

Para tentar chamar a atenção “Fazendeiro Fiel” mandou o link para o Facebook. Os outros queriam porque queriam ver a menina na webcam. Indagados os motivos responderam que era para comprovar mesmo se era uma criança e alguns chegando a ousar que era para “ver melhor, se conhecer”.


Perguntas indiscretas. Foto: Reprodução do Bate Papo UOL.

A sala de bate-papo começava a encher. Tem capacidade para 50 pessoas simultaneamente. A maioria esmagadora era de nicknames (nomes que se dá ao perfil) masculinos. Os outros que ali estavam eram de gays masculinos (por que já falavam abertamente que estavam ali para querer “um homem” ou “um ativo ou passivo gostoso para uma aventura agora”. Havia poucos nicks femininos, por isso qualquer pessoa que se apresentasse como mulher era disputada a ferrenhas tecladas.

Onze minutos e 14 segundos depois: a primeira proposta clara de interpelação sexual. Era “Vigilante” insistindo para a menina se mostrar na câmera e, preferencialmente “gostosinha”. Perguntado o que seria isso: ele disse “em roupas de dormir”.


Insistência faz parte do papo dos tarados virtuais. Foto: Reprodução do Bate Papo UOL.

Foram outras sete interpelações diretas de caráter sexual, mostrando que se Melissa quisesse algo a mais iriam até busca-la em casa. Isso mesmo: uma menina de 12 anos.

Perguntas como se já beijou, se já ficou com menina, se já ficou com menino: foram também constantes. Essas partiram principalmente de uma pessoa que usava o nick Joana e se dizia mulher. Outra pessoa, de nome “Roberta” também fez insinuações.

Na outra quase uma hora que a reportagem permaneceu fingindo ser Melissa os papos, propostas e desrespeitos se repetiram.

OS TRÊS TIPOS DE PESSOAS QUE FORAM ENCONTRADAS HABITANDO AS SALAS DE BATE-PAPO PUXANDO CONVERSA COM UMA CRIANÇA

Das quase 30 interpelações no Bate-papo UOL “vividas” por Melissa, houve conversas com mais de 20. Foram encontrados três tipos básicos de papeadores: os tarados, os carentes e os legais.


Todo tipo de gente, inclusive do mal, habita os chats. Foto: João Alberto / O Olho.

Os tarados são caracterizados como grupo que tenta a todo custo levar a conversa para a sexualidade. Buscam quase que desesperadamente transar com alguém. Representaram ao menos a metade dos que estavam na sala. São muito mal educados e bem sem jeito com o trato às pessoas. Usam palavras de baixo calão e são bem diretos em dizer suas intencionalidades.

Entre esse público está os pedófilos, os que não se importam sobre a idade da interlocutora, preferindo, inclusive, crianças. Esses, de cara, propuseram encontros, sexo e visualizações pela webcam.


Perfis dos usuários dos chats pode definir se conversa vai ou não rumar para pedofilia.Foto: João Alberto / O Olho.

Já os carentes são aqueles que procuram mais atenção, que querem mais bater papo ou, quem sabe, arrumar até uma namorada no chat. Representam menos de um quarto do público dos chats. Gostam de conversar, mas são meio sem jeito.

Os legais são os que têm um bom papo e estão ali muitas vezes até para busca de sexo, mas não expõem de cara. Procuram balizar o papo pelo respeito ou educação. Não falam palavrões e às vezes são galantes. Estão em extinção. Foram encontrados em minoria, mas os três que tentaram falar com Melissa, ao comprovarem a idade de 12 anos, pediram licença e passaram a dar conselhos para que ela saísse da sala, por conta dos perigos.

OS CONVITES E AS INSISTÊNCIAS SEXUAIS. CASO LEVADO À POLÍCIA

Um dos pontos levados em conta na experiência foi a quantidade de convites recebidos. As insistências para visualizações na webcam e também para encontros foram quase um mantra. Mesmo a personagem falando a idade.


Casos de pedofilia virtual têm crescido no Piauí. Foto: João Alberto / O Olho.

A facilidade e até certeza de impunidade foram os fatos mais comprovados. O anonimato proporcionado por quem entra no chat pode ser um ponto impulsionador para ataques à crianças e adolescentes.

Notou-se também que, aproximadamente, 20% dos interlocutores procuram alertar a personagem de que ali não era um lugar seguro e que poderia existir pedófilos. Um dos interlocutores, que usou o nick “Carllos”, alertou várias vezes para que Melissa saísse da sala, pois seria vítima de tarados.

O caso foi relatado para a equipe de investigação da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente – Vítimas – da Polícia Civil do Piauí em Teresina.

O chefe de investigação Marlon Lima continua destacando a importância dos pais se preocuparem em que os filhos estão vendo, sendo necessário maior atenção. Ele enfatizou ainda sobre a importância da reflexão de que realmente é necessário uma criança ter um aparelho celular e que é interessante também os pais monitorem diretamente o que os filhos vêem e acessam na Internet, pois os casos de pedofilia no Piauí estão crescendo e muitos deles através de sua vertente cibernética.

Fonte: Portal O Olho

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