Na quinta-feira (30), logo no comecinho da noite, chegou ao fim uma missão espacial muito bem sucedida, a Messenger. Destinada a estudar Mercúrio em detalhes, ela foi lançada em agosto de 2004 e, após seis anos e meio de viagem que incluíram três sobrevoos ao planeta, ela foi colocada em órbita elíptica em março de 2011. Na verdade, a Messenger foi a primeira sonda a orbitar o menor e menos conhecido planeta do Sistema Solar. Antes dela, a Mariner 10 passou por lá em março de 1974, efetuando 3 sobrevoos antes de seu combustível acabar e entrar em órbita do Sol.
Até 2011, o que tínhamos de informações sobre Mercúrio era fruto dos sobrevoos da Mariner 10 e, claro, das observações em Terra. Só que por causa da sincronia dos sobrevoos da Mariner, ela sempre fotografou a mesma face do planeta. Como resultado, menos de 45% da superfície do planeta foi mapeada, ou seja, muita coisa ainda precisava ser feita, mas o pouco que foi mapeado mostrou que, no geral, a aparência de Mercúrio é a mesma da Lua.
Foi preciso esperar três décadas para que a NASA enviasse nova sonda para Mercúrio. Uma missão como essa não é das mais fáceis, tanto por causa da intensa força gravitacional do Sol, que perturba a estabilidade da órbita da sonda, quanto por causa das difíceis condições nessa região do espaço.
Os instrumentos da sonda precisam ser blindados termicamente para evitar as grandes variações de temperatura experimentadas todas as vezes que ela mergulha na sombra do planeta. Isso sem falar na intensa radiação solar que pode arruinar toda a eletrônica embarcada.
Mas enfim, a espera terminou em 2004.
A Messenger tinha como missão, além de mapear Mercúrio por completo com uma resolução muito melhor, analisar o tipo de material que compõe o terreno, estudar a interação da radiação solar e determinar o tamanho do núcleo do planeta, entre outros.
O plano inicial era que a missão durasse um ano, mas com o Sol chegando ao seu máximo de atividade em 2012, a missão foi estendida mais um ano. Só que nessa extensão, as descobertas feitas pela Messenger foram tão fascinantes que outra extensão foi conseguida, que durou até quando acabou o propelente que faz a sonda manobrar. Sem capacidade de manobra, a órbita da sonda vai decaindo irremediavelmente, até que ela se choque contra a superfície do planeta a mais de 14 mil km/h, abrindo uma cratera de 16 metros de diâmetro.
E quais são essas descobertas?
A mais fantástica foi a de que existe água em Mercúrio! Esse resultado era totalmente inesperado por causa das condições do planeta, cuja superfície pode atingir mais de 400°C! Mas os mapas da Messenger, combinado com os instrumentos de análise geológica, mostraram a presença de gelo em crateras que não são iluminadas pelo Sol nas regiões polares, como ocorre na Lua também.
Outra descoberta fascinante foi que Mercúrio guarda em sua superfície amostras de material que formou o Sistema Solar. A Messenger mostrou uma camada de material carbonáceo também sobre os polos, muito provavelmente trazido por cometas vindos da Nuvem de Oort, junto com o gelo. As regiões polares de Mercúrio mostraram-se um depósito de material pré biótico oriundo do bombardeio sofrido pelos planetas interiores, ocorrido nos primórdios do Sistema Solar!
Outras descobertas foram que Mercúrio tem um núcleo líquido, comparativamente até maior que o da Terra, tem campo magnético muito fraco, teve episódios de vulcanismo e possui “atmosfera”. Bom, atmosfera numas. Com a alta temperatura e a baixa gravidade do planeta, não há condições dele reter atmosfera de verdade, densa. O que a Messenger descobriu foram traços de hidrogênio, hélio, oxigênio, sódio, cálcio e potássio, cuja origem é tanto o vento solar, quanto o decaimento radioativo de rochas, formando uma exosfera.
As descobertas da Messenger foram tão surpreendentes que para mantê-la em órbita foi usado hélio quando o gás propelente das manobras acabou – ou seja, a NASA já fez tudo o que pode.
Literalmente, a sonda está com tanque vazio e a gravidade é implacável. O último suspiro de hélio foi usado agora, dia 28, para elevar mais um pouco sua órbita final de modo que o momento do impacto coincidisse com o horário em que as antenas da rede Deep Space estivessem em posição favorável para “ouvir” as últimas transmissões. Essa rede de antenas é usada pela NASA para monitorar e se comunicar com todas as suas missões espaciais e tem antenas espalhadas pelo globo – de modo que sempre há pelo menos uma delas rastreando as sondas no espaço.
O impacto da Messenger ocorreu como planejado na quinta, às 18h26 no horário de Brasília, e só vamos saber se de fato aconteceu quando suas transmissões cessarem. Em 2016, a missão BepiColombo, parceria entre as agências espaciais europeias e japonesa, deve ser lançada em direção a Mercúrio. Só lá pelo ano de 2020 é que poderemos ver a cratera deixada pelo mergulho final da Messenger.
Fonte: G1
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