Centenas de apartamentos foram ocupados ilegalmente na Zona Sul. Moradores se recusaram a deixar o local e Justiça determinou a retirada.
Despejo de 2700 famílias do Residencial Torquato Neto, na Zona Sul (Foto: Gustavo Almeida/G1)
Cerca de 500 homens das Polícias Militar, Força Nacional e Polícia Federal cumprem desde as 6h desta terça-feira (16) uma ordem judicial de reintegração de posse nos residenciais Angico e Caneleiros A e B, Zona Sul de Teresina. Segundo a PM, pelo menos 3 mil famílias ocuparam há um mês de forma irregular apartamentos do Programa Minha Casa Minha Vida.
Uma ordem da Justiça Federal determinou a retirada dos moradores que ocuparam ilegalmente mais de 2 mil imóveis. A operação conta com o apoio de um helicóptero e da cavalaria da polícia.
Polícia Federal irá lacrar os imóveis após desocupação (Foto: Gustavo Almeida/G1)
De acordo com a coronel Júlia Beatriz Almeida, do gerenciamento de crise da Polícia Militar, neste primeiro momento apenas idosos, pessoas com deficiência e famílias que possuam crianças com deficiência em casa não serão retirados.
"A desocupação definitiva dos apartamentos deve demorar até três dias. Após isso, a Polícia Federal irá lacrar todos os imóveis. São 2.648 apartamentos ocupados de forma irregular", disse a coronel.
Famílias deixaram os imóveis sem mostrar resistência (Foto: Gustavo Almeida/G1)
Uma dessas famílias é a da dona de casa Adália da Costa e Silva, 52 anos. São sete pessoas, entre eles três crianças. A mulher contou que antes de ocupar um dos apartamentos morava de aluguel no Residencial Mário Covas, Zona Sul. Segundo ela, todos são sustentados com um benefício que a filha recebe do INSS.
“Minhas filhas fizeram inscrição no Minha Casa Minha Vida, mas nunca foram chamadas. Disseram que temos 24h para deixar o apartamento. Não sei o que vai ser e nem para onde vamos”, relatou.
“Só queria saber por que eles jogam as pessoas na rua como se fossem bichos. Onde tem bandido não pisa um policial, mas para tirar seres humanos de dentro de casa eles botam todas as forças policiais do estado”, desabafou a dona de casa Oziene Marques, 30 anos, que também mora de aluguel com outras seis pessoa da família.
Equipes do Bope estão entrando nos apartamentos e desocupando as casas. Apesar da ação policial, até o momento a desocupação ainda é pacífica e não houve confronto entre policiais e invasores. Móveis estão sendo retirados dos imóveis e algumas famílias já providenciaram veículos para levar os seus pertences.
Operação contou com o apoio do helicóptero da Polícia Militar (Foto: Gustavo Almeida/G1)
Com a invasão dos imóveis, portas, janelas e instalações elétricas foram danificadas. O gerente regional de negócios da Caixa Econômica Federal, Francisco Elizomar Guimarães, informou que após a retirada das famílias, a instituição fará um levantamento dos danos e irá providenciar os reparos.
De acordo com a Prefeitura de Teresina, outros beneficiários já foram contemplados com os apartamentos, mas estão impedidos de entrar no local por conta da ocupação irregular.
Diversas forças policiais foram mobilizadas para a operação de despejo (Foto: Gustavo Almeida/G1)
Na semana passada, o secretário de governo, Merlong Solano, recebeu no Palácio de Karnak, representantes dessas famílias e disse que os responsáveis pela seleção e entrega das unidades habitacionais são a Prefeitura de Teresina e a Caixa Econômica Federal. Não houve entendimento.
Manifestações
Desde que receberam a ordem judicial para deixar os apartamentos, as famílias fizeram algumas manifestações. Uma delas bloqueou o trânsito na BR-316 na semana passada. Os manifestantes montaram uma barricada usando pneus e troncos de árvores. Uma pessoa chegou a ser baleada na perna durante um tumulto.
O que diz a Prefeitura (nota na íntegra)
A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitação (SEMDUH), por meio da Coordenação de Habitação, comunica que participou do processo de negociação com as famílias ocupantes no Residencial Torquato Neto, após pedido de intervenção da Caixa Econômica.
Com autorização do prefeito Firmino Filho e conhecimento do Ministério Público, foi feita uma proposta de abertura de um cadastro dos ocupantes para participarem do processo democrático de acesso à unidade habitacional: cadastro-inscrição-sorteio, mas, a possibilidade foi negada por eles. A Prefeitura de Teresina reitera o compromisso com a moradia para todos, mas, obedece a legislação e o processo democrático, sobretudo, no que diz respeito ao programa federal Minha Casa, Minha Vida.
Nota da Caixa Econômica
Com relação à operação de reintegração de posse, ocorrida na manhã desta terça-feira (16), dos residenciais Angico e Caneleiros A e B, do programa Minha Casa Minha Vida localizados na Zona Sul de Teresina (PI), Caixa Econômica Federal informa que, em conjunto com os demais órgãos envolvidos, está dando o suporte necessário às famílias ocupantes. O banco colocou transporte à disposição para a recondução das pessoas e dos móveis aos seus lugares de origem ou ao local por elas indicados.
A CAIXA ressalta que, após a retomada dos empreendimentos, as unidades serão vistoriadas e recuperadas. Após isso, os imóveis serão direcionados às famílias devidamente selecionadas pelo poder público. A Caixa Econômica Federal informa ainda que entrou com pedido de reintegração de posse das unidades do residencial que foi acatada pela Justiça Federal. A medida teve o objetivo de garantir o direito dos reais beneficiários selecionados de acordo com as regras do programa do governo federal.
Do G1 PI