Gleison Vieira da Silva, 17 anos, foi espancado até a morte na quinta (16). Adolescente vem de família pobre, largou escola e era envolvido com drogas.
Adolescente espancado até a morte foi enterrado em Teresina (Foto: Ellyo Teixieira/ G1)
A morte de Gleison Vieira da Silva, 17 anos, espancado até a morte na quinta-feira (16), é mais um capítulo da trágica história que começou com o estupro coletivo ocorrido em Castelo do Piauí, no mês de maio. Os suspeitos do homicídio são os outros três adolescentes que foram condenados, junto com a vítima, pelo espancamento e abuso de quatro meninas que provocaram a morte de Danielly Rodrigues, de 17 anos.
Segundo o gerente de internação do CEM, Herberth Neves, o grupo admitiu a autoria da morte e não demonstrou remorso ou arrependimento ao relatar o assassinato de Gleison.
Para Herberth Neves, a morte ocorreu durante o banho, quando um dos jovens teria aplicado uma gravata, fato que deu início às agressões. Já o juiz o Antonio Lopes, da 2ª Vara da Infância e Juventude em Teresina, afirmou que provavelmente a vítima tenha sido atacada enquanto dormia.
A história de Gleison é parecida com a de tantos outros jovens em conflito com a lei pelo Brasil: vem de família pobre, largou a escola no 3º ano do ensino fundamental, era envolvido com drogas e já tinha passagens pela polícia por furtos e roubo, o primeiro cometido aos 13 anos. As informações são da mãe do rapaz, Elizabeth Vieira, e do Conselho Tutelar de Castelo do Piauí, cidade localizada a 190 km de Teresina.
Ele e os outros três adolescentes foram condenados, no último dia 9 de julho, a três anos de internação no Centro de Educação Masculino (CEM) pelos atos infracionais equivalentes aos seguintes crimes: prática de quatro estupros, três tentativas de homicídio e um homicídio.
Antes da barbárie, Gleison vivia em uma casa pequena no bairro Refesa, periferia da cidade, com cinco irmãos, o padrasto e a mãe grávida de três meses. A renda da família é a aposentadoria do irmão mais velho, que tem problemas mentais, e mais R$ 270 do Bolsa Família.
Casa do adolescente em Castelo do Piauí (Foto: Patrícia Andrade/G1)
Elizabeth Vieira, 35 anos, conta que o filho “se desviou” quando tinha apenas 13 anos de idade. A mãe disse que sabia que ele usava drogas, mas não tinha ideia de como as comprava.
Gleison, segundo relatos do Conselho Tutelar, teve várias passagens pela polícia por furtos e roubos. Para a mãe que amamentou o filho até os dois anos, o garoto sempre saía de casa dizendo que ia para o “videogame”.
Pedia tanto, conversava tanto, mas ele só fingia que ouvia. As irmãs pequenas chamavam de ladrão, e ele brigava com elas"
Elizabeth Vieira, mãe de adolescente espancado até a morte no CEM
“Eu sabia que ele usava maconha, que fazia coisa errada. Pedia tanto, conversava tanto, mas ele só fingia que ouvia. As irmãs pequenas chamavam de ladrão, e ele brigava com elas.”
Segundo relatos do delegado Laércio Evangelista, responsável pela investigação do estupro coletivo, muita gente em Castelo do Piauí comemorou a morte de Gleison.
“Se ele se envolveu [com crimes], não foi com conselho meu. Eu disse para ele servir ao bem e não ao mal. Que façam festa [pela sua morte], mas não eu. Minha dor eu carrego comigo”, disse a mãe nesta quinta-feira.
Detalhes do crime
Gleison foi o jovem que detalhou os passos do estupro coletivo em vídeo gravado por policiais. Do alto do Morro do Garrote, onde ocorreu a série de crimes, o jovem explicou como as vítimas chegaram ao local.
“Às quatro da tarde, chegaram quatro meninas para tirar fotos. Adão mandou eu e [fala o nome de outro jovem], descer e nos esconder. Quando as meninas subiram, Adão abordou as meninas com uma arma e forçou elas a ter relações sexuais com ele”, disse o menor em um trecho do vídeo.
Enterro em Teresina
Corpo de adolescente espancado foi enterrado em Teresina (Foto: Ellyo Teixeira/G1)
Diante da possibilidade de reações hostis de moradores de Castelo do Piauí durante o enterro de Gleison Vieira da Silva, 17 anos, a família da vítima realizou o sepultamento do corpo do jovem nesta sexta-feira (17), no cemitério Santa Cruz, em Teresina.
A mãe do garoto, o padrasto e uma tia acompanharam o enterro. Policiais militares e conselheiros tutelares também estiveram no cortejo.
Elizabeth Vieira gravou nesta sexta um vídeo depois que soube do assassinato do filho. "Foi um choque muito grande porque eu não estava esperando. Recebi a notícia, é uma dor muito grande", disse.
A mãe da vítima disse ainda que acredita que a briga entre os jovens tenha sido motivada por causa dela. No vídeo, ela diz que ele a defendia muito. "Ele tinha que pagar pelo crime que cometeu, mas não desta forma", disse.
Destino dos outros três jovens
Após o crime, os jovens que são apontados como os autores do homicídio foram transferidos do CEM para o Complexo da Cidadania, na Zona Sul de Teresina. Representantes do Centro Educacional e da Justiça irão se reunir para decidir onde esses garotos irão cumprir o restante da suas medidas socioeducativas.
Chacina no CEM
Ainda na sexta-feira, o juiz Antonio Lopes, da 2ª Vara da Infância e Juventude em Teresina comentou que o centro educacional onde o garoto estava internado poderia ter sido palco de uma chacina. Segundo o magistrado, os adolescentes vinham sendo ameaçados de morte pelos demais jovens da unidade.
Segundo ele, os agressores tiveram sorte, porque os jovens infratores que cumprem pena no local iriam matar todos.
Briga na prisão
Suspeito de estupro coletivo negou autoria no crime (Foto: Catarina Costa/G1)
Adão José de Sousa, 40 anos, acusado de ser o mentor do estupro coletivo foi ferido durante uma briga na quinta-feira na Casa de Detenção Provisória de Altos, a 20 km de Teresina. Segundo informações da administração penitenciária, Adão teve algumas escoriações, mas nada grave.
"Ele se envolveu em uma briga no início da tarde, ficou ferido e foi levado para o Hospital em Teresina. Após atendimento, ele foi levado para o Instituto Médico Legal, onde passou por exames, mas já está de volta à penitenciária de Altos", informou a assessoria de imprensa da Casa de Detenção.
Entenda o caso
No dia 27 de maio, quatro adolescentes foram brutalmente agredidas, estupradas e depois jogadas do alto de um penhasco em Castelo do Piauí, a 190 km de Teresina. Uma das jovens morreu após 10 dias internada no Hospital de Urgência de Teresina (HUT). As outras três também ficaram hospitalizadas e já receberam alta.
Os quatro adolescentes suspeitos de participação no crime foram apreendidos horas após a barbárie. Um quinto suspeito, Adão José de Sousa, 40 anos, foi preso dois dias depois.
Pedro Santiago e Patrícia Andrade
Do G1 PI