MINISTÉRIO PÚBLICO já denunciou 7 e sustenta que ao menos 3 mortes foram encomendadas
O 180, ao publicar a matéria titulada“Exclusivo: 180 revela contratante de pistoleiro para assassinar radialista Gleydson Carvalho”, foi novamente, no dia seguinte, a Camocim, no Ceará. Dessa vez com a missão de apurar como foi a operação da Polícia Civil no município de Senador Sá, aquela em que dois pistoleiros conseguiram escapar. Também esteve no município de Martinópole, cidade para onde as investigações policiais voltaram seu foco na tentativa de desvendar o assassinato do diretor executivo da Rádio Liberdade FM, ocorrido último dia 6 de agosto.
Em conversa com o proprietário do local alugado pelos pistoleiros, em Serrota, distrito de Senador Sá, Tobias Ferreira de Carvalho, ele relatou ao 180 que numa terça-feira, dia 4 de agosto, foram à sua residência dois homens – um pistoleiro e um idoso, este até então não citado – para alugar o ponto, que estava fechado. Eles fecharam o aluguel para abrir um suposto bar, com um freezer , por R$ 150,00.
Foi ainda cedido grades de cerveja para o uso nesse suposto futuro comércio, além de outros utensílios, como som. Segundo Tobias Carvalho, os homens não tinham nenhuma característica marcante. “Não tinham tatuagem”, reforça. E um estava com a “bermuda rasgada”.
Tobias Carvalho, que teme pela sua integridade física, disse que os homens alugaram a casa por intermédio de “Batista Dentista”, que é tio, por parte de mãe, do prefeito de Martinópole, James Bell, cuja gestão era alvo de ataques do radialista. No entanto, ressaltou que no dia que Batista foi à sua casa, ele não se encontrava. Quem o recebeu foi sua esposa.
ESPOSA DE TOBIAS AFIRMA QUE VIU "BATISTA DENTISTA"
A esposa preferiu não dizer o nome. “Veio, ele veio aqui”, afirmou. “Ele tem bigode?”, pergunta a reportagem. “Tem”, responde a senhora, antes de ser exposta a uma fotografia de "Batista Dentista", e confirmar que aquele era o homem que estivera em sua residência com os pistoleiros antes do dia do crime.
“Eles vieram na terça, e ficaram de vir na quarta, quando vieram, vieram logo de manhã, aí ficaram aqui sentado [na frente da casa]. Neste instante o Batista chegou e aí falou com um deles, um baixinho e foi embora. Não conversou nem comigo não”, acrescentou a esposa de Tobias Carvalho, que está sofrendo com crises de pressão alta depois do ocorrido.
As duas portas do lado direito davam acesso à entrada do esconderijo dos pistoleiros. Do lado esquerdo a rua que levaria ao fundo da casa, que não foi cercada.
UM “SENHOR IDOSO” AJUDOU A ALUGAR PONTO DE TOBIAS CARVALHO
A mulher relatou em uma outra rodada de perguntas que, na verdade, na terça-feira, foi à sua residência "um senhor de idade" e um outro homem, que seria “baixinho”, em termos de estatura - o que se assemelha à descrição de um dos pistoleiros -, para alugar o imóvel onde garantiram seria um bar.
Ela relata, inclusive, um diálogo com esse senhor, e diz que um pequeno cachorro que tem na casa “quase pega o idoso”. Depois reafirmou que na quarta o "idoso" veio novamente, só que teria vindo com o "Batista Dentista".
Na ocasião, ela estaria conversando com dois casais, que seriam os dois pistoleiros, e duas mulheres – uma dessas mulheres veio limpar o ambiente, mas só foi vista no primeiro dia, e provavelmente é uma das que estariam em um local alugado em frente à rádio, já que nessa suposta pousada ficaram dois casais, para não levantar suspeitas, segundo a Polícia Civil.
A única saída da casa ao fundo, era essa portinha, avistada por sobre o muro. Ela estava desimpedida.
“Aí o Batista chegou [num carro] e chamou esse baixinho, e esse baixinho foi, na quarta, até ao carro. Esse velhinho [o idoso] estava com ele [Batista Dentista] dentro do carro”, relata. Quem pagou Tobias Carvalho, como ele mesmo relata, “foi um dos caras lá, o baixinho”.
A mulher do proprietário da residência também citou o nome de "Sérgio Bueno", mas como que tendo sido dito pelo senhor idoso. “Eu vou logo chamar os meninos que eles vão ficar lá no Sérgio Bueno”, teria falado o senhor que acompanhava Batista, quando de um dos diálogos com a mulher de Tobias.
Depois dessa conversa ocorrida na casa de Tobias, o 180 o pediu que abrisse o imóvel que foi alugado.
Vista por sobre o muro do terreno ao fundo do ponto. No canto superior direito, a portinha por onde os pistoleiros escaparam. No canto esquerdo, as bananeiras, onde um ficou por tempo considerável, antes sair novamente em disparada.
E travou-se o seguinte diálogo após se saber que o delegado à frente do caso, Herbert Ponte e Silva, chutou a porta:
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Tobias Carvalho: (...) eu não esperava que os caras eram pistoleiros.
180: Então, o senhor não tinha conhecimento?
Tobias Carvalho: não, eu não tinha...
180: Eles [policiais] não lhe disseram que iriam invadir a casa?
Tobias Carvalho: não, não disseram.
180: O senhor se assustou quando ele [Herbert] chutou a porta?
Tobias Carvalho: Ave... e muito. (...) Eu chamei primeiro o caboclo Baixinho. Baixinho, abre a porta! Aí eles se recusaram a abrir e ele juntou os pés e derrubaram a porta.
180: Quem derrubou a porta?
Tobias Carvalho: Quem derrubou a porta foi o dr. Herbert....
180: E já entrou com arma em punho?
Tobias Carvalho: Foi.
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DELEGADO DISPAROU UM TIRO, MAS NÃO HOUVE PERSEGUIÇÃO
O delegado o Herbert ao entrar no recinto avistou na casa o casal que foi preso, e ao fundo os dois pistoleiros, e disparou um tiro. Os pistoleiros saírem correndo.
Na equipe do 180 havia um segurança, um especialista em tiros de curta e longa distância - também estava acompanhada de força policial requisitada formalmente.
Novo ângulo da portinha por onde os pistoleiros escaparam
A marca do tiro do delegado foi procurada de forma minuciosa na parede pela equipe de reportagem e esse especialista, mas os furos detectados seriam marcas de pregos ou outros objetos contundentes, mas não de uma bala.
O tiro disparado pelo delegado de polícia civil foi ouvido na então pacata Serrota por volta das 11 horas da noite.
Conta Tobias Carvalho que os quatro homens da Polícia Civil não cercaram o fundo da residência, e como ele não foi alertado de que era uma operação policial para prender pistoleiros, não informou que pelo fundo era possível escapar, já que tinha uma pequena porta de saída.
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180: E os outros [pistoleiros] correram?
Tobias Carvalho: Os outros correram.
180: E eles [policiais] foram atrás?
Tobias Carvalho: Não, eles foram algemar os outros, e ficaram por aí [apontando para o lado de fora do recinto].
180: E o delegado Herbert veio com quantos homens?
Tobias Carvalho: Três.
180: Ele e mais três?
Tobias Carvalho: Ele e mais três.
180: E os outros três homens, não correram atrás desses dois?
Tobias Carvalho: Não, não correram não.
180: Não correram atrás, nem cercaram, nem foram por lá [ao fundo]?
Tobias Carvalho: Não.
180: Então só prenderam dois aqui [dentro da residência], saíram os quatro e ficaram aqui [fora da residência]?
Tobias Carvalho: Exatamente. Nenhum correu atrás.
180: O senhor soube que ficou escondido um ali [ao fundo] atrás da bananeira [um local que contém porcos, num terreno ao fundo da casa?
Tobias Carvalho: Não, quando algemaram eles foram para Camocim.
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O proprietário da residência - que seria um ponto comercial -, Tobias Carvalho foi levado e depôs nesta mesma noite, segundo ele próprio.
Quando novamente indagado sobre a marca da bala foi enfático: “eu não vi”. “Quando ele [delegado] derrubou a porta, ele deu um tiro”, disse. Mas reforçou que não procurou a marca da bala. Também não sabe dizer se o tiro foi para o alto, para baixo, ou na direção dos pistoleiros em fuga.
Porém, não existe qualquer dúvida de que os pistoleiros estavam dentro da residência e só não foram pegos porque a casa não foi cercada.
Do outro lado da rua, no fundo do local alugado pelos criminosos, ainda estão as marcas dos pés de um dos pistoleiros que fugiu pelo telhado de uma casa.
OUTROS MORADORES REFORÇAM ESSA TESE
Os moradores das residências ao fundo do ponto alugado também relataram que um pistoleiro saiu por uma casa adjacente, do outro lado, e o segundo ainda chegou a ficar escondido no quintal do terreno ao fundo do que seria o bar, próximo às bananeiras, e por um tempo considerável. “Eu cheguei a ver ele, ele pois a cabeça para fora do muro [por cima do muro], mas ninguém veio atrás”, relata um dos moradores que não será identificado.
A Polícia Militar não foi acionada a tempo. Quando chegou ao local, a operação da Polícia Civil já havia ocorrido.
UM DOS PISTOLEIROS TERIA SE FERIDO DURANTE A FUGA
Um dos moradores que também não será identificado, narrou que durante a fuga de um dos pistoleiros, o acusado passou por sua residência, e chegou a se ferir no tórax com os cacos de vidro de um dos muros de um casa localizada aos fundos de sua residência.
Ao continuar a empreender fuga, um dos pistoleiros teria se ferido na altura do peito, com os cacos de vidro sobre os muros
Durante a corrida para escapar, ao passar pelo telhado da sua casa, ele chegou a pegar um facão, assustado que estava com a passagem de um dos fugitivos por sobre seu telhado. “Ainda quebrou duas telhas”, contou.
Todas essas informações constam de conversas gravadas.
UM DOS PISTOLEIROS AINDA FOI VISTO NO DIA SEGUINTE
Durante o ato de fugir, os dois pistoleiros se separaram, um teria ido na direção de Marco, e outro, o que se feriu, teria seguido para uma localidade chamada Boqueirão.
No canto direito do muro ficou um dos pistoleiros, durante o ato da fuga
“Aí [no outro dia] passou acolá numa casa, entrou, comeu bolacha com refrigerante (...), suco. Aí saiu nas ‘croas do angico’, aí lá saiu sem blusa, sem chinelo, pediu uma blusa e deram, com os peitos todo rasgado. Estava com R$ 10,00 no bolso. Aí comprou um pacote de bolacha, uns cigarros, e saiu. Mas no outro dia ainda viram ele de novo, depois de três dias. (...) Daqui lá dá légua e meia”, relatou.
180 ESTEVE NA PREFEITURA DE MARTINÓPOLE, MAS ESTAVA FECHADA
Depois de sair do distrito de Serrota, a reportagem do 180 foi ao município de Martinópole, localizado entre Camocim e Senador Sá, e chegou na prefeitura por volta de 15h40. A tentativa era falar com James Bell, o prefeito, mas a prefeitura estava fechada. Soube-se depois que havia sido decretado luto por conta da morte de alguém próximo.
180 esteve na prefeitura de Martinópole durante à tarde, mas ela estava fechada
Neste mesmo dia, pela manhã, a Polícia Civil havia prendido o tesoureiro da prefeitura, Daniel Lennon. A operação despertou a atenção de populares.
E DE LEMBRAR QUE SECRETARIA DISSE SER SÓ CINCO ENVOLVIDOS...
Um dos pontos estranhos neste caso, foi a Secretaria de Segurança do Estado do Ceará, dias depois da publicação da primeira matéria pelo 180, ter afirmado em nota enviada ao Portal que o caso havia sido resolvido, com a identificação de cinco envolvidos (Governo do CE afirma que morte de radialista em Camocim foi elucidada). Mas há muitos mais.
Assim como se constatou com as apurações jornalísticas para a produção das reportagens veiculadas neste meio de comunicação, o Ministério Público parece comungar do mesmo pensamento. Só na sua denúncia prévia, que ainda pode e deve ser aditada, à 1ª Vara da Comarca de Camocim, já foram denunciados 7 pessoas por envolvimento no assassinato do radialista Gleydson Carvalho, acusados de homicídio qualificado e participação em organização criminosa para matar.
Interior da residência onde ficaram os pistoleiros. Do lado esquerdo a porta usada para a fuga
O promotor também pede várias conversões de prisões temporárias em preventivas.
VEJA LISTA DOS PRIMEIROS DENUNCIADOS:
1 – João Batista Pereira da Silva – tio do prefeito de Martinópole (suposto contratante dos pistoleiros);
2 – Daniel Lennon Almada Silva – tesoureiro da Prefeitura de Martinópole, o homem do dinheiro, portanto, presume-se, de confiança do prefeito;
3 – Israel Marques Carneiro – um dos que entraram na Rádio Liberdade FM para matar;
4 – Thiago Lemos da Silva – um dos que entraram na Rádio Liberdade FM para matar;
5 – Gisele de Souza Nascimento – suposta companheira de um dos pistoleiros;
6 – Regina Rocha Lopes – suposta companheira de um dos pistoleiros;
7 – Francisco Antônio Carneiro Portela – sobrinho de um dos pistoleiros, que vem a ser Israel. Portela foi preso no dia da operação da Polícia Civil, em Serrota, distrito do município de Senador Sá.
Tênis deixado pelos assassinos no interior da residência
MP PEDE APROFUNDAMENTO DAS INVESTIGAÇÕES
O responsável pela denúncia é o promotor de Justiça Evânio Pereira de Matos Filho e a denúncia inicial foi feita em 24 de agosto.
Nos requerimentos finais, o promotor pede também “(...) o aprofundamento das investigações para identificação de outros integrantes da organização criminosa, tendo em vista os indícios de envolvimento de outras pessoas além dos denunciados”.
É preciso, por exemplo, se apurar quem era o senhor de idade que acompanhou “Batista Dentista” até à casa de Tobias Carvalho e, se apurar, como é que um prefeito de uma pequena cidade como Martinópole não sabia de um plano de tamanha envergadura para assassinar um radialista que lhe dispensava severas críticas, sendo que ao menos duas pessoas próximas são acusadas de envolvimento na morte do comunicador.
Roupas deixadas pelos acusados no interior da propriedade alugada
O prefeito já foi procurado por duas vezes pelo 180 para se tratar deste assunto. Um recado com número de retorno, de Brasília, onde se atua, foi repassado à secretária da prefeitura, de nome Vitória, mas até agora não houve retorno.
MP AFIRMA QUE HAVIA PELO MENOS TRÊS MORTES ENCOMENDADAS
Na denúncia do Ministério Público, o promotor titular do caso, Evânio Filho, afirma que além da morte de Gleydson, existiam ainda pelo menos mais duas mortes já encomendadas, mas não cita de quem seriam. Há suspeitas de que uma delas seria de um outro prefeito da região, do município Granja.
Diz a peça: “Segundo Gisele, assim como essa confidenciou que o radialista seria apenas o primeiro a ser assassinado, pois haveria pelo menos dois outros alvos certos na lista da organização criminosa que informalmente se constituiu, além de outros que fossem necessário eliminar". Todos os obstáculos da "quadrilha", portanto, eram propensos alvos.
CONTA BANCÁRIA PODE LEVAR A FINANCIADORES
Na denúncia o promotor também relata que “dentre os documentos apreendidos figura um comprovante de abertura de conta bancária na agência da Caixa Econômica de Itapipoca e o afastamento do sigilo bancário que será requerido talvez esclarecerá o núcleo financeiro da organização criminosa que se constituiu”.
MANUTENÇÃO DO PODER EM MARTINÓPOLE
O promotor Evânio Filho ressalta ainda que há fortes indícios da existência de outras pessoas não identificadas “no financiamento e formatação do elaborado plano”.
Em outro trecho afirma que “associaram-se mais de 4 pessoas para o cometimento de crimes de homicídios qualificados contra pessoas que representassem séria ameaça à permanência de um grupo familiar no Poder no município de Martinópole”. Suspeita mais clara que esta não existe.
E que tanto "Batista Dentista" quanto Daniel Lennon “teriam interesse na execução da vítima por desprezível sentimento de intolerância às concepções divergentes e críticas (...) feitas à gestão de Martinópole” através do trabalho de imprensa.
Que prendam os financiadores e os mandantes então. Todos eles. Porque seu nomes ainda não foram declinados.
Há um outro detalhe fundamental para o desfecho desse caso, que é prender alguns dos envolvidos já identificados e os levarem a julgamento.
Fonte: 180 Graus
Repórter: Rômulo Rocha
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E veja na íntegra da denúncia do Ministério Público feita à Justiça em Camocim:
Fonte: 180 Graus
: Rômulo Rocha