Neste momento ao se aproximar a data limite para as filiações partidárias, estabelecida pela Justiça Eleitoral, àqueles que desejam pleitear um mandato nas eleições municipais de 2016 o que se comenta aos quatro cantos da cidade é se vai ter a “janela”, se será mantida a “coligação proporcional”, quem “vai ficar” nesse ou naquele partido, quem “vai ser” candidato a isso ou aquilo?!
Não guarda a mesma importância saber o que os pretensos candidatos pensam sobre os problemas e soluções que afligem a cidade de Parnaíba e a seus habitantes. Antes, é importante cuidar da candidatura, do partido! Mas é chegada a hora de os eleitores darem fim à “síndrome de Peter Pan”, onde a maioria dos políticos infantilizam os outros simples mortais que apenas têm uma obrigação: votar!
A sociedade tem evoluído sob todos os aspectos. Verifiquem-se os avanços tecnológicos, a saúde, o conhecimento, a comunicação, isso em se tratando de ganhos para a sociedade. Também, em igual medida, se registram avanços no comportamento individual humano que se traduz em possibilidade de melhoria da qualidade existencial, onde se percebe mais acesso à educação, mais cidadania, aumento da expectativa de vida. Contudo, essa evolução que a rigor melhora as relações humanas ainda não conseguiu atingir as instituições políticas e nem aos seus agentes. Continua-se a fazer política com a mesma desfaçatez de décadas atrás, onde se imperava o poder absolutista e a prática corrupta sempre em favor da manutenção do status quo da elite dominante. Digo isso apenas com uma ressalva: há, através dos tempos, uma sofisticação da forma de operar, mas as regras e o resultado do jogo são os mesmos d’antes!
Compreender como o “sistema” se instalou, como ele opera e a quem serve nos daria elementos para o discernimento necessário para limpar a podridão que tornaram comum no meio político, desmantelando a “rede de poder” que escraviza, humilha e torna dependente uma grande parcela dos nossos irmãos parnaibanos. Talvez aqui resida a grande estratégia de poder e dominação: envolvimento político, só para os corruptos; discutir política, só para os bestas; denunciar irregularidades, só para os loucos; candidatura, só para quem pertence à família tradicional ou tenha dinheiro para gastar na campanha...
Mas é chegada a hora de mudar o rumo das coisas, pois o “sistema” não vai permitir a democratização plena da sociedade, por isso mesmo, reinventa-se constantemente e se adequa aos novos movimentos sociais com técnicas sofisticadas para ludibriar as pessoas, uns com migalhas e outros com favores maiores. Uma reflexão fica ao cidadão que trabalha e paga essa conta com os impostos subtraídos do seu sangue e suor, aos empresários que investem na produção de bens e serviços que movimentam a economia local: você confiaria a chave da sua casa, da sua empresa a um gerente despreparado e que não zelasse pelo seu valoroso patrimônio? Porque se dá a chave de sua cidade sem uma avaliação cuidadosa?
As eleições municipais de 2016 precisam trazer novos elementos ao debate. O momento é oportuno para se edificar uma análise construtiva, porém crítica, quanto ao processo eleitoral e, sobretudo, ligado aos elementos iniciais de um balanço da política local. A mídia precisa dar mais importância às questões sócio-políticas com lucidez e isenção, contribuindo com o debate saudável que deve permear a vida pública. A imprensa, historicamente, cumpriu um papel preponderante na redemocratização brasileira e pode e deve ser mais autêntica na defesa de uma Parnaíba que sirva a todos os seus filhos, altiva e democrática!
Devemos combater o discurso “raso” imposto pela mídia chapa branca que prega as realizações banais e obrigatórias do poder público como algo excepcional que vêm para melhorar a vida das pessoas! Por outro lado, combater a “politicagem barata” da atual administração municipal que deveria isentar-se disso e passasse a cuidar da cidade e das pessoas. O prefeito, embora de forma escamoteada, está em plena campanha à reeleição e, com ele, alguns de seus assessores que pleitearão uma vaga na Câmara Municipal. Escancaradamente fazem do espaço público um trampolim aos seus projetos pessoais. Eles entraram no “embalo”. Destes que deveriam, em primeiro plano, edificar a gestão democrática e zelar pela moralidade pública não se percebe um aceno sequer de desconstrução da dita “politicagem”. Sobre isso cabe uma outra reflexão: existe uma “politicagem qualificada” em voga, em Parnaíba?
Sabe-se que todo mandato tem avanços e retrocessos, sendo que os erros devem ser levantados para futura correção e os acertos ponderados enquanto ganhos sociais (e políticos) a serem defendidos. Mas nem isso fazem com lucidez. Defender a Parnaíba e sua gente deveria ser o mote de qualquer candidato que pense a política como um serviço, mas a promiscuidade com que denegriram o espaço público e a atuação mais recente da história da cidade leva a sociedade a uma apatia que interessa e beneficia os maus políticos.
Concluindo, a recuperação da política não se fará apenas no plano da lapidação dos mecanismos da representação: sua chave repousa na ampliação e requalificação do protagonismo político da sociedade, o que se traduz em uma fusão de um novo tipo entre participação, representação e governo do social.
(*) Fernando Gomes, sociólogo, cidadão, eleitor e contribuinte parnaibano.