07/08/2015

Vítima de estupro coletivo no PI volta a estudar e irá se preparar para Enem

 Adolescente de 17 anos ganhou festa de boas vindas dos colegas de turma. Outra sobrevivente não retornará aos estudos este ano devido ao tratamento.


Vítima de estupro coletivo retornou às aulas no colégio em Castelo do Piauí (Foto: Catarina Costa / G1)

Uma das três sobreviventes do estupro coletivo em Castelo do Piauí retornou às aulas esta semana na Unidade Estadual Francisco Sales Martins. Após o crime, a menina passou dois meses sem frequantar a escola e foi recebida com flores e festa. De acordo com a direção da escola, a garota irá prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em outubro.

Lucineide Silva, diretora da escola, falou que as outras vítimas permanecem em Teresina, sendo que uma delas pediu transferência e vai estudar na capital. Uma das meninas, que sofreu traumatismo craniano, não retornará aos estudos este ano porque continua em tratamento médico.

Danielly Rodrigues, de 17 anos, morreu no dia 7 de junho. Ela teve esmagamento da face, lesões pelo pescoço e tórax e chegou a passar 10 dias internada, mas não resistiu.

As quatro amigas estudavam juntas e foram vítimas de um crime bárbaro na tarde do dia 27 de maio. Elas saíram para tirar fotos e fazer um trabalho da escola no Morro do Garrote, ponto de onde se tem uma visão panorâmica da cidade. De lá, elas foram estupradas, agredidas e jogadas do alto do penhasco com cerca de 10 metros de altura.

No retorno da adolescente de 17 anos a escola, os estudantes das duas turmas do terceiro ano do ensino médio realizaram uma festa surpresa e compraram flores para ela. A diretora Lucineide Silva contou que o momento foi de alegria entre os alunos e adolescente reagiu bem a homenagem.

Antes do seu retorno, as psicólogas conversaram com os estudantes para recebê-la e orientaram a eles não perguntar sobre o crime.


Uma das meninas ainda continua em tratamento e não vai estudar esse ano (Foto: Reprodução/TV Clube)

"A reação dela foi boa e ela parece tão bem. Os colegas estão dando apoio e tivemos que mudar a rotina da escola depois desta barbárie. Contamos agora com quatro psicólogos para atender a adolescente, os demais alunos, professores e os pais. Agora é voltar aos poucos à vida normal", declarou.

Ainda de acordo com Lucineide, a estudante se inscreveu no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e neste segundo semestre iniciará uma preparação para as provas com os demais alunos.

Atendimento especial
A secretária de Assistência Social de Castelo do Piauí, Ceres Vidal, relatou que todos do colégio ficaram bastante abalados com o crime e por este motivo solicitam a presença de profissionais para ajudar no acompanhamento dos alunos.

"A escola nunca havia se deparado com algo de alta complexidade como esse crime. Foram enviadas equipes de psicólogos que atenderam casos como de Realengo e da Boate Kiss. Estes especialistas realizaram trabalho por dois dias com os professores, zeladores e vigiais do colégio, dando orientações de de como poderíamos voltar à nossa rotina", contou a secretária.

As famílias das vítimas também vêm recebendo apoio psicológico e o acompanhamento deve seguir de acordo com a evolução das adolescentes. "O desenvolvimento das meninas está bem e ficamos muito aliviados com isso. O interessante é que elas não têm revolta e estão nos ensinando como superarr esse caso", revelou Ceres Vidal.

As famílias das adolescentes forma procuradas, mas ninguém quis comentar sobre o caso.
Cinco pessoas são suspeitas da série de atrocidades cometidas contra as meninas, que têm entre 15 e 17 anos. Um traficante de 40 anos, que estava foragido da Justiça, foi preso sob suspeita de ser o mentor da barbárie. Entre os investigados, estão quatro adolescentes, também entre 15 e 17 anos, que foram apreendidos horas após o crime.


Delegada Anamelka (Foto: Reprodução/TV Clube)

Participação dos menores
Após a Defensoria Pública afirmar que os três jovens condenados pelo estupro coletivo em Castelo do Piauí não estavam no local do crime, a delegada AnaMelka Cadena, titular da Delegacia da Mulher da Zona Sudeste de Teresina, afirmou na quarta-feira (5) não ter dúvidas quanto à participação dos adolescentes no ato.

Catarina Costa
Do G1 PI

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“A Polícia Civil trabalha com responsabilidade. Juntamos todos os elementos que foram levantados, identificamos a participação dos quatro, apresentamos o indiciamento ao Ministério Público e a Justiça condenou esses adolescentes”, contou em entrevista para TV Clube.

Defensoria diz que jovens são inocentes
Segundo a defensora geral do Piauí, Hildete Evangelista, o único elemento que liga os três jovens à cena do crime e ao estupro coletivo é o depoimento de Gleison Viera da Silva, que acabou sendo morto pelos três jovens que são representados pela Defensoria Pública.
“As próprias vítimas não reconheceram os adolescentes. Se o defensor acredita que os três jovens não são coautores do crime, ele tem obrigação de recorrer da decisão. Ele se baseia nas provas mostradas nos autos e constrói a sua tese de defesa”, disse.

Recurso segue para o TJ-PI
O juiz Leonardo Brasileiro, da Comarca de Castelo do Piauí, encaminhou na quarta-feira o processo do estupro coletivo ao Tribunal de Justiça do Piauí. Segundo ele, a decisão foi baseada nas provas levantadas do caso e caberá ao órgão analisar o recurso apresentado pela defesa dos três menores acusados do crime.

"É direito da Defensoria de recorrer e tudo será analisado pelo Tribunal de Justiça. Neste momento, o defensor vai tentar convencer os desembargadores sobre a tese por ele levantada. Ouvimos várias testemunhas, são várias provas documentais no processo e eu garanto que analisei todas elas e a tese de defesa de que os menores não estariam no local do crime foi afastada desde o início", declarou o juiz.

Promotor apresentou denuncia contra Adão de Sousa (Foto: Gilcilene Araújo/G1)

O promotor de Justiça Cesário de Oliveira, responsável pelo caso do estupro coletivo ocorrido com quatro adolescentes em Castelo do Piauí, afirmou que todas as teses apresentadas pela defesa são inconsistentes.

"A apelação tem 50 páginas, vários argumentos e mais de 20 testemunhas foram apresentadas pela defesa, mas nenhuma mostra o álibi de que os menores não estariam no local do crime. Pelas provas apresentadas, pelo o horário do estupro eles não estariam em outro lugar do que lá na cena do crime. É direito da defesa recorrer, no entanto, já solicitei ao juiz manter a sentença na íntegra, porque não há nenhum reparo a ser feito", comentou.

CNMP investiga morte
A investigação que apura a morte de Gleison Vieira da Silva, de 17 anos, será acompanhada de perto pela Comissão da Infância e Juventude do Conselho Nacional do Ministério Público (CIJ/CNMP). Em despacho, o conselheiro e presidente da CIJ, Walter de Agra, afirmou que a vítima foi colocada no mesmo alojamento com outros três adolescentes que já tinham feito ameaças contra Gleison. A intenção é apurar se houve negligência ao colocar todos o envolvidos na mesma cela.

Conselho Nacional do Ministério Público (Foto: Sérgio Almeida/CNMP)

Tanto vítimas quanto agressores são sentenciados pelo cometimento do estupro coletivo contra quatro garotas no mês de maio em Castelo do Piauí, a 190 km de Teresina.

"E esse 'linchamento' foi alertado pelo próprio Gleison, de que seria morto caso ficasse junto aos demais, pois fora ameaçado; no entanto, mesmo tendo avisado sobre a suposta ameaça, foi colocado nos mesmos aposentos, o que causou o seu espancamento e consequentemente a sua morte", afirmou Walter de Agra em despacho no CNMP.

De acordo com o conselheiro, embora o CNMP não possua competência constitucional para apurar diretamente a morte do adolescente Gleison, faz-se necessário acompanhar, no âmbito do Conselho, a atuação do Ministério Público do Estado do Piauí no caso.

Depoimento
Os três adolescentes suspeitos de terem espancado até a morte Gleison Vieira foram ouvidos na segunda-feira (3) pela delegada Thais Paz, que preside o inquérito. Os depoimentos foram acompanhado pelo promotor Maurício Verdejo e ocorreram no Complexo da Cidadania, na Zona Sul de Teresina.

Gleison foi morto dentro CEM Foto: Pedro Santiago/G1)

De acordo com a delegada Thais Paz, com o depoimento dos suspeitos, as oitivas estão concluídas e o inquérito policial deve ser finalizado em poucos dias. “Todos os envolvidos foram ouvidos inclusive os menores que estavam nos alojamentos ao lado. Não posso falar muito, pois esse assunto está saturado. Porém posso dizer que já estamos na fase final e que as conclusões serão enviadas até o final da semana para a promotoria”, disse a delegada.

O resultado do laudo cadavérico no corpo de Gleison Vieira mostrou que ele foi morto a socos e pontapés. “A vítima faleceu em decorrência de traumatismo craniano, provocado por uma ação contundente. O que para a gente quer dizer um espancamento. Não houve a utilização de nenhum outro instrumento. Apenas socos e pontapés”, afirmou Thai Paz.

Os três menores, que estavam no alojamento ao lado do onde Gleison morreu, afirmam que não viram nada na noite do crime. A Polícia Civil pediu as imagens da câmera de segurança que fica na ala do alojamento e intimou quatro socioeducadores a prestar depoimento.

Gleison cumpria medida socioeducativa por participar do estupro coletivo de quatro meninas em Castelo do Piauí. Ele e mais três adolescentes foram condenados pelo crime. Segundo a polícia, os outros garotos envolvidos no estupro confessaram terem matado Gleison no CEM.

Carta para a mãe
Gleison escreveu uma carta para sua mãe dois dias antes de morrer. No texto, ele pede a Elizabeth Vieira que o perdoe pelo que fez, agradece seu amor, diz que não vai esquecê-la e encerra dizendo para ela ficar com Deus.

O adolescente inicia a carta dizendo que sente muita falta da mãe, em seguida pede perdão, mas não chega a mencionar o crime de Castelo do Piauí. O texto da carta contém erros de português e os trechos transcritos na reportagem foram corrigidos para facilitar a leitura.


Adolescentes foram ouvidos no Complexo da Cidadania em Teresina (Foto: Ellyo Teixeira/G1)

Perdão
"Mãe eu sinto muito a sua falta, eu quero que você me perdoe pelo que fiz. Eu sei que Deus me perdoou, agora eu quero seu perdão. Desculpa, mãe, eu não ter sido um filho que você sempre quis, mas eu quero que você saiba que você nunca vai sair da minha mente e do meu coração", escreveu.

Elizabeth recebeu a carta durante uma visita que fez ao filho quando ele ainda estava no Centro de Internação Provisória (CEIP), antes da transferência para o CEM. Segundo a mãe do rapaz, dois dias após receber a carta, o filho foi espancado e faleceu dentro do alojamento.

Em outro momento da carta, o adolescente pede para que a mãe não o esqueça e se desculpa por não ter recompensado o que ela fez por ele.

"Mãe, eu peço que você lembre que teu filho te ama muito. Eu sei que nunca recompensei o que você fez por mim e que continua fazendo. Obrigada por ter sido uma mãe tão boa. Eu agradeço a Deus por ter você comigo, eu nunca vou esquecer de você e nem da minha vovó e nem do meu padrasto".

O rapaz se despede pedindo para a mãe para ficar com Deus e no envelope chega a pedir que ela guarde o bilhete durante os três anos em que cumpriria a medida socioeducativa.



Gleison pede o perdão da mãe em carta diz para ela ficar com Deus (Foto: Ronaldo Mota/portalcastelo)

Investigação
Um inquérito policial foi aberto para investigar a morte de Gleison da Silva. A titular da delegacia do Menor Infrator, Thaís Paz, já ouviu o depoimento dos adolescentes suspeitos de assassinar o jovem dentro do alojamento do CEM.

Conforme a delegada, os menores assumiram a autoria do crime e relataram que mataram o rapaz porque ele entregou a polícia o nome dos suspeitos de participar do estupro coletivo.

“Um dos adolescentes disse que foi apenas uma discussão que terminou na morte do Gleison, já os outros dois narram que a intenção era realmente matar o delator. Os adolescentes afirmam que assassinaram Gleison porque ele teria dito para a polícia que eles participaram do estupro coletivo sem terem envolvimento com o caso”, afirmou a delegada.

Além dos suspeitos, a delegada ouviu no dia 21 três adolescentes que teriam presenciado o espancamento, mas com medo de represálias, eles não revelaram o que viram na noite do crime.

Após a morte de Gleison, os outros três menores culpados pelo estupro coletivo foram retirados do CEM e agora estão no Centro de Internação Provisória (Ceip).

Superlotação
Após determinar a transferência dos três adolescentes acusados de estupro para o Ceip, o juiz Antônio Lopes, da 2ª Vara da Infância e Juventude da capital, falou sobre a dificuldade de encontrar vagas nas unidades socioeducativas no Piauí.

"Não vou deixar de sentenciar nenhum adolescente por falta de vaga do estado. O judiciário julga e quem deve manter estes menores é o executivo. Se o estado é inoperante, o problema não é meu", disse. Segundo ele, os menores ficarão em celas separadas no Centro até que o estado providencie um local definitivo para eles ficarem internados.

Afastamento de diretoria
A direção do CEM de Teresina foi afastada no dia 20, três dias após a morte de Gleison dentro da unidade. Foram afastados o coordenador do CEM, Marivaldo Viana, o gerente de Internação do CEM, Herbert Neves, e o diretor da Unidade Socioeducativa da Secretaria de Assistência Social e Cidadania (Sasc), Anderlly Lopes.

O atual coordenador do Centro Educacional de Internação Provisória (CEIP), Emerson de Oliveira, deixará o cargo para assumir a coordenação do CEM, de forma interina. Já a direção da Unidade Socioeducativa da Sasc será de responsabilidade do capitão Anselmo Portela.

Presidente da OAB-PI negou intervenção do Centro Educacional Masculino (Foto: Catarina Costa/G1)

Vistória da OAB
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seccional Piauí, realizou uma vistoria no dia 20 no CEM. Segundo William Guimarães, presidente da OAB-PI, atualmente o Centro abriga 83 internos, 20 a mais do que sua capacidade.

Foram encontrados problemas como falta de colchões em todos os alojamentos, insuficiência de educadores e estrutura precária, com uma fossa estourada numa das celas.

Guimarães pretende elaborar um relatório sobre a vistoria, que será entregue ao governo do estado e à direção do CEM. "Vamos solicitar uma audiência com o governador e cobrar dele o investimento para a reforma deste centro como a construção de um novo", disse.

Segundo ele, a União disponibilizou R$ 5,5 milhões para a nova unidade, que correm o risco de serem devolvidos por "porque o estado não tem tido eficiência da aplicação desses valores".

O Governo do estado confirmou a devolução de R$ 3,5 milhões. Segundo a administração, havia um convênio entre o estado e a União para a construção de um Complexo Socioeducativo para Adolescentes do Sexo Masculino em Conflito com a Lei, em terreno localizado na BR 316. Entretanto, segundo a Sasc, a administração anterior perdeu os prazos do convênio e o dinheiro teve que ser devolvido.


Centro Educacional Masculino em Teresina (Foto: Pedro Santiago/G1)

Chacina no CEM
Lopes disse que o CEM poderia ter sido palco de uma chacina, já que os adolescentes internados pelo crime de Castelo do Piauí vinham sendo ameaçados de morte pelos demais jovens da unidade.

“Eles [os internos] disseram que os agressores tiveram foi sorte, porque iriam matar os quatro. Poderia ter sido uma chacina. Há 14 anos vejo que o estado não tem cumprido o que estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente, que é manter separados menores com alto grau de agressividade, a exemplo de estupradores, e quando há riscos para a integridade física deles”, afirmou o juiz.

Mãe grava vídeo
"Foi um choque muito grande porque eu não estava esperando [a morte de Gleison]. Recebi a notícia, é uma dor muito grande", disse.

A mãe da vítima disse ainda que acredita que a briga entre os jovens tenha sido motivada por causa dela. No vídeo, ela diz que ele a defendia muito. "Ele tinha que pagar pelo crime que cometeu, mas não desta forma", disse.

Por medo da reação dos moradores de Castelo do Piauí, a família de Gleison acabou realizando o enterro em Teresina.

Catarina Costa
Do G1 PI

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