A Universidade Federal do Piauí (UFPI) anunciou que fósseis de anfíbios e répteis de aproximadamente 278 milhões de anos, mais antigos que os dinossauros, foram encontrados em municípios do Piauí e Maranhão. A pesquisa do paleontólogo Juan Carlos Cisneros com outros cinco cientistas estrangeiros são do período Permiano, do final da era paleozoica, e servem como prova de que os continentes eram unidos há milhões de anos. Tanto que alguns dos fósseis encontrados no Nordeste brasileiro já foram achados na América do Norte e África do Sul.
Os fósseis foram achados na bacia do Parnaíba, que já é alvo de outras pesquisas em razão dos troncos petrificados, com os do Parque Nacional da Floresta Fóssil, no rio Poti, em Teresina (PI). Um deles fósseis corresponde ao crânio e parte do esqueleto de um anfíbio arcaico que habitou lagos tropicais no Nordeste. O animal foi batizado de Timonya anneae em homenagem ao município de Timon (MA), onde foi descoberto. De acordo com Cisneros, o animal era carnívoro e lembraria uma salamandra aquática e uma enguia.
Outra espécie encontrada na região de Nazária (PI) e foi batizada de Procuhy nazariensis, nome que na língua timbira significa "sapo de fogo". Trata-se de um anfíbio que vivia submerso na água e cujos fósseis foram achados em uma formação geológica conhecida como Pedra de Fogo.
O pesquisador explica que as duas espécies não eram nem sapos ou salamandras. Os estudiosos acreditam que os animais faziam parte de um grupo já extinto.
Também foram encontrados um anfíbio de dimensões semelhantes as de um jacaré pequeno, cujos parentes viveram no Paraná e África do Sul, e um réptil parecido com uma lagartixa, que só tinha sido visto até então na América do Norte.
Foto: Juan Cisneros.
"O primeiro réptil encontrado aqui na região dessa idade, é precisamente uma espécie que já era conhecida na América do Norte, precisamente nos estados do Texas e de Oklahoma nos Estados Unidos. Isso significa que a fauna do Piauí tinha uma relação, uma conexão com a fauna daquela região, hoje em dia parece estranho, mas temos que lembrar que naquela época os continentes estavam unidos, formando o que a gente conhecia como a Pangeia, então a América do Norte estava coladinha com a América do Sul e realmente não é tão difícil que os animais pudessem habitar uma área compartilhada entre os Estados Unidos e o Brasil, e agora a gente pode comprovar que isso de fato aconteceu. Nós temos uma espécie de réptil em comum entre os Estados Unidos e o Brasil na era paleozoica", explixa o pesquisador Juan Carlos Cisneros.
A pesquisa contou com financiamento de órgãos de diversos países, com visita de especialistas argentinos ao Piauí e o envio dos fósseis para trabalhos nos Estados Unidos. Cientistas da África do Sul, Reino Unido e Alemanha também estiveram envolvidos nos trabalhos.
Crânio do anfíbio Timonya anneae. Timonya é um anfíbio arcaico que habitou lagos tropicais do Nordeste durante o Período Permiano (aprox. 278 milhões de anos atrás). Este espécime foi encontrado em Timon, MA. Seu nome homenageia o município de Timon. Este
Foto: Kenneth Angielczyk
Equipe de campo procurando fósseis em Nazária, PI. De esquerda a direita, em sentido horário: Christian Kammerer, Jörg Fröbisch, Juan Cisneros, Martha Richter, Renata Quaresma.
Foto: Juan Cisneros.
Claudia Marsicano (frente) e Santago Bessone (fundo) bsucam fósseis em uma pedreira em Nazária, PI.
Foto: Juan Cisneros
Claudia Marsicano sustém uma laje com um pequeno crânio que ela descobriu em uma pedreira em Nazaria, PI.
Foto: Kenneth Angielczyk
Martha Richter estuda os dentes de Anisopleurodontis (parente dos tubarões) no Laboratório de Paleontologia da UFPI em Teresina.
Foto: Kenneth Angielczyk
Martha Richter escava uma camada com restos de peixes em uma pedreira desativada em Timon, MA, enquanto Roger Smith faz anotações sobre a geologia do local. Nesta pedreira foi descoberto o novo anfíbio Timonya, cujo nome homenageia o município.
Foto: Kenneth Angielczyk
Roger Smith (esquerda) e Christian Kammerer (direita) desembalam fósseis no Laboratório de Paleontologia da UFPI em Teresina.
Foto: Juan Cisneros
Martha Richter segura uma laje com um crânio parcial de peixe pulmonado que foi descoberto por Christian Kammerer em uma pedreira em Nazária, PI.
Foto: Kenneth Angielczyk
Roger Smith em uma pedreira em Nazária, PI. A maioria dos fósseis que encontramos são provenientes de pedreiras como esta. A rocha é extraída para uso em construção e pavimentação.
Foto: Juan Cisneros
Detalhe da mandíbula de réptil captorrinídeo. O espécime está preservado como um molde natural. A
parte anterior está à direita, as múltiplas fileiras de dentes são características dos captorrinídeos.
Foto: Martha Richter
Kenneth Angielczyk segura um rocha com a mandíbula de um réptil captorrinídeo que ele descobriu em uma pedreira em Nazária, PI.
Foto: Kenneth Angielczyk
Juan Cisneros usa uma cortadora de rocha para coletar um anfíbio fóssil em Monsenhor Gil, PI.
Foto: Kenneth Angielczyk.
Roger Smith medindo uma seção estratigráfica no leito de um riacho em Monsenhor Gil, PI.
Andrey Atuchin
Reconstrução artística do habitat dos membros da uma comunidade lacustre tropical com 278 milhões de anos de antiguidade na região de Teresina.
Fonte: Cidade Verde