Tripulação alterou rota e tentou acelerar pouso em 5 minutos, indica relatório final do CENIPA
Acidente aéreo matou Eduardo Campos (foto) e mais 6 pessoas em agosto de 2014. Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão Conteúdo
A FAB (Força Aérea Brasileira) informou nesta terça-feira (19) que uma sequência de falhas humanas, especialmente o cansaço dos pilotos, a falta de treinamento para comandar a aeronave acidentada e o descumprimento dos procendimentos de segurança para o pouso, e o mau tempo, determinaram a queda do avião que levava o então presidenciável Eduardo Campos — um jato Cessna 560XL, prefixo PR-AFA.
O acidente ocorrido em 13 de agosto de 2014 em Santos (SP) deixou sete mortos. O relatório do CENIPA (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão da FAB, foi antecipado aos familiares e representantes das vítimas do acidente. Segundo o documento, o impacto da aeronave contra o solo foi a 694,5km/h.
Em longa e detalhada explicação para a imprensa, o tenente coronel Raul de Souza, encarregado pela investigação desse acidente aeronáutico, desde o dia 13 de agosto, explicou que uma série de fatores provocaram a queda do avião.
Quanto às condições físicas do avião, disse que "foram descartadas hipóteses como fogo na aeronave, voo de dorso [cabeça para baixo/ e colisão em voo".
— Durante as comunicações não houve qualquer chamada da tripulação que representasse uma condição de emergência.
Em relação às condições físicas dos pilotos, a investigação se aprofundou nos detalhes e mostrou que a jornada de trabalho dos pilotos no mês de agosto de 2014 foi a seguinte: "extrapolações entre os dias 1º e 5 de agosto; em conformidade nos sete dias antes do acidente; e não foi possível determinar se a tripulação teve o repouso adequado na noite anterior ao acidente".
No entanto, a análise da situação do copiloto — agente importante para comandar o avião — indica fadiga. Conforme o tenente da FAB, "resultados do exame pericial para os parâmetros de voz, fala e linguagem indicaram que existia compatibilidade com fadiga e sonolência do copiloto".
Outra razão que contribuiu para o acidente foi a falta de preparo da tripulação para aquele modelo específico. Segundo o tenente coronel da FAB, o comandante da aeronave operava o modelo XLS e passou a operar o XLSplus, que se acidentou.
— O fabricante previa um treinamento para a adequação, segundo a FAA [a Anac dos Estados Unidos]. O comandante não fez esse curso de aperfeiçoamento.
Tenente coronel da FAB apresenta principais fatores do acidente Fabio Rodrigues Pozzebom/19.01.2016/Agência Brasil
Mau tempo e rota
A aeronave de Campos precisou arremeter uma vez antes de tentar novamente o pouso, uma vez que a visibilidade havia caído de 8.000 metros às 8h para 3.000 às 10h. Portanto, as condições meteorológicas eram adversas no momento do acidente, segundo o tenente coronel Raul.
— Às 10h02min42s, o radar em São Paulo [que não era responsável pelo monitoramento do avião] pegou a aeronave porque ela teve que subir consideravelmente após a arremetida.
Após a desistência de pousar, os pilotos resolveram adotar uma manobra a fim de encurtar o procedimento de pouso em até 5 minutos — segundo a FAB, a tripulação sabia dessa economia de tempo.
Por isso, o tenente coronel foi categórico: "Tudo o que estamos fazendo aqui é para tentar entender o que a tripulação fez sem cumprir os procedimentos previstos".
— A tripulação sofreu desorientação espacial provocada tanto pelas condições climáticas desfavoráveis quanto por ter adotado rotas não previstas".
Fonte: R7.com