A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta segunda-feira (1º) "situação de emergência em saúde pública de interesse internacional" em razão do aumento de casos de infecção pelo vírus Zika identificados em diversos países e de uma possível relação da doença com quadros registrados de malformação congênita e síndromes neurológicas.A decisão foi tomada após reunião de um comitê de emergência em Genebra, convocado pela entidade na última sexta-feira (29) para tratar do assunto.
Durante coletiva de imprensa, a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, destacou que ainda é necessário comprovar cientificamente a ligação entre infecções pelo vírus Zika em gestantes e casos de microcefalia em bebês. As evidências, entretanto, são consideradas fortes pelos especialistas do grupo. “É preciso investigar e entender melhor a relação”, disse.
Microcefalia no Brasil
O país fez um alerta em outubro sobre um número elevado de nascimentos de crianças com microcefalia na região Nordeste. Atualmente há 270 casos confirmados e 3.449 em estudo, contra 147 em 2014. O Brasil notificou em maio de 2015 o primeiro caso de doença pelo vírus zika. Desde então, "a doença se propagou no país e também em outros 22 países da região", aponta a OMS. Com mais de 1,5 milhão de contágios desde abril, o Brasil é o país mais afetado pelo vírus, seguido pela Colômbia, que no sábado anunciou mais de 20.000 casos, 2.000 deles em mulheres grávidas.
Em entrevista ao Jornal do Piauí desta segunda-feira (1°), a diretora de Vigilância e Saúde, Amarilis Borba, destacou que é preciso mudar a conduta e a educação sanitária para vencer a guerra contra o mosquito, e principalmente respeitar o espaço e as estruturas públicas. "Não temos vacina, nem remédio para impedir a proliferação do vírus. A única alternativa é matar o mosquito. A prefeitura já tirou 1,3 mil toneladas de lixo das ruas, mas onde foi limpo em 23 de dezembro, já está sujo de novo e quem suja é a população. Precisamos mudar o ponto de vista", argumentou a diretora.
Amarilis ressaltou que os presidentes dos Estados Unidos e da Rússia se reuniram com cientistas para ajudarem o Brasil nos estudos sobre o zika vírus. A última vez que a OMS decretou emergência internacional foi pelo vírus ebola, originado na África. "A situação é grave. O mosquito é democrático. Ele não quer saber o grau de instrução. Qualquer pessoa, qualquer um de nós pode ser picado. Precisamos combater o mosquito noite e dia, dia e noite. Todos nós podemos ficar doentes. Não podemos perder a guerra contra um mosquito de meio centímetro. O que nós vamos dizer para as gerações futuras?", questiona a especialista.
Preocupação com abortos
Amarilis reforça que as mulheres não devem engravidar nesse período e deu dicas para as que já estão grávidas: "É preciso vigiar não só a própria residência, mas também as áreas de até 300 metros de distância. É preciso vestir-se da forma mais coberta possível, com meias, sapatos e calça. O repelente só funciona por 2 ou 3 horas, portanto é preciso ficar repondo, mas ainda não se sabe se a grande quantidade de repelente pode fazer mal", alertou.
Outra questão que preocupa a OMS é que a quantidade de aborto pode aumentar após a mãe receber a notícia da microcefalia. "A decisão do aborto é pessoal, de cada mulher, mas deve ser feita em condições adequadas. Porém, a Legislação Brasileira só aceita o aborto quando há risco de morte para a mãe, quando o feto não tem cérebro ou se a gravidez é resultado de um estupro. O zika não está em nenhuma dessas condições e o que preocupa é que o aborto leva muitas mulheres ao óbito. Não engravidar é o mais recomendado", finaliza.
Jordana Cury
jordanacury@cidadeverde.com
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