07/02/2016

Universitário parnaibano entrevista pesquisadora colombiana que descobriu fungo capaz de tratar mais de 180 sarcomas

O graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Piauí, Jorge Izaquiel Alves de Siqueira, natural de Buriti dos Lopes, entrevistou no dia 19 de janeiro a etnobióloga colombiana Paulina Mejía Correa, que descobriu um fungo capaz de atuar em 180 tipos de sarcomas na espécie humana.


Jorge Izaquiel Alves de Siqueira (Foto: Arquivo pessoal)

A pesquisa da etnobióloga é voltada à valorização do conhecimento popular e como o dito conhecimento pode ser aplicado e devolvido às comunidades estudadas. Além de valorizar o conhecimento empírico, os resultados de tal pesquisa podem contribuir com o desenvolvimento da ciência e garantir melhor qualidade de vida. A etnobióloga fala a respeito de sua pesquisa, dos desafios das pesquisas etnobiólogicas e do retorno de ditas pesquisas às áreas estudadas.
A pesquisadora colombiana Paulina Mejía Correa, nos últimos anos, tem desenvolvido uma pesquisa em torno da Etnobiologia. como etnobióloga ela faz pesquisas acerca do mundo etnomicológico. Recentemente, sua investigação obteve um resultado positivo: a comprovação de propriedades medicinais de um fungo usado por duas comunidades tradicionais, uma no Equador e outra no México. O fungo descrito, segundo a pesquisadora, possui um polissacarídeo, e este pode atuar em mais de 180 tipos diferentes de sarcomas na espécie humana.

As duas comunidades estudadas têm a cultura de comer fungos silvestres, uma tradição que parte desde os avós, e ainda têm a prática de cultivar fungos do tipo cogumelos. O cultivo de fungos silvestres e a prática de consumo destes tem se perdido nos últimos anos nas comunidades estudadas, isso se deve ao abandono da terra. Além disso, as comunidades objeto de estudo da pesquisadora reconhecem que há anos os fungos estão a desaparecer na região e junto a eles a importante prática de usá-los na alimentação.

Paulina Mejía Correa (Foto: arquivo pessoal)

“Fiz uma entrevista com jovens e crianças e a maioria relatou não gostar de consumir fungos, pelo menos não como seus pais gostam”, afirma Paulina Correa. O grande desafio nesse contexto é traçar perfis que ajudem a preservar o conhecimento tradicional local e permitir que a prática de consumo de fungos não se perca no tempo, e que futuras gerações a conheçam e a usem. Com o estudo da pesquisadora novos horizontes se abrem: a validação das propriedades do fungo poderá fazer com que mais populações se interessem pelo cultivo e uso desse fungo, o problema agora é discutir como o consumo desenfreado pode influenciar no contexto de preservação da espécie, o cultivo é boa alternativa.

As relações entre o saber tradicional local e o conhecimento científico andam lado a lado. “Considero que o conhecimento tradicional seja a base de boa parte do conhecimento científico que se tem atualmente. O conhecimento e as práticas tradicionais são o fundamento essencial, e a ciência pode validá-los e/ou buscar alternativas para aplicá-los. Sem o conhecimento empírico das populações tradicionais não conheceríamos muito do que a ciência agora conhece”, afirma Paulina Correa.

As comunidades tradicionais tem um contato mais íntimo com a natureza, elas são pioneiras no saber, que espécie é útil, como coletar, quando, como usá-la e sem esse conhecimento produzido e acumulado mediante observação e experimentação não seria possível aproveitar as espécies que o mundo natural oferece.

A etnobióloga também discute sobre os desafios de se concretizar uma pesquisa com enfoque etnobiológico. Segundo ela “As pesquisas etnobiológicas estão repletas de desafios, primeiro porque não é fácil trabalhar com pessoas porque se tem que amoldar-se à cultura, acatar as normas locais e adaptar-se à sua maneira de percepção e ser”, relatou Paulina. Além disso, a pesquisadora tem em mente que para serem exitosas, as pesquisas de cunho etnobiológico precisam representar uma necessidade importante ou despertar o interesse das pessoas, no entanto, isso demanda tempo.


Paulina Mejía Correa (Foto: arquivo pessoal)

Além dos desafios das pesquisas etnobiológicas, há também a preocupação em torno de ditas pesquisas. “Como etnobióloga tenho me preocupado seriamente em como minhas pesquisas podem contribuir de alguma forma para as comunidades estudadas, como levar um retorno a elas. Se os outros criticam as investigações etnobiológicas porque não levam retorno, então estão corretos, essa crítica é justa, visto que muitos etnobiólogos só obtêm informações do local estudado e não contribuem de forma útil com nada”. E ainda, “temos as pessoas como objetos de estudo, mas esquecemos que deve haver uma relação sujeito-sujeito, e precisamente é essa a minha preocupação, por isso sempre trato de contribuir desde a ciência. No momento minha maior preocupação é melhorar a qualidade da alimentação e incentivar a economia”, finaliza a etnobióloga Paulina Mejía Correa.

Da redação do Portal PHB em Nota

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