Arqueóloga revela que crise financeira prejudica o parque e anuncia demissão de 90% dos funcionários
Niéde Guidon faz desabafo (Foto: Arquivo Icmbio) |
A crise financeira no Brasil tem ameaçado o Parque Nacional Serra da Capivara, na cidade de São Raimundo Nonato (a cerca de 500km da capital Teresina) que vem passando por dificuldades desde o ano de 2015. A falta de dinheiro para a manutenção e assistência do parque é motivo de preocupação para Niéde Guidon, arqueóloga e diretora da Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham).
Ela concedeu uma entrevista reveladora à TV Cidade Verde e disse que considera ter perdido seu tempo ao se dedicar a um dos principais pontos turísticos do Piauí. “Eu morava em Paris. Era professora por lá. Pensei que as coisas iriam melhorar aqui. Mas vejo que a situação econômica não permitirão que isso aconteça”, afirmou.
Por telefone ela também falou à reportagem do O Olho. Segundo Niéde o Parque Serra da Capivara é mantido com doações e recursos do Governo Federal, através do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio). Entretanto desde o ano passado, o parque tem sofrido com a demora desses recursos. Ela informou que mais de 90% dos funcionários foram demitidos e que dos 270 funcionários restam apenas 30, mantidos pela Fumdham.
E não há previsão de que essa situação melhore. “É um parque nacional. Então é obrigação da ICMBio de manter. É um patrimônio da humanidade. Um patrimônio brasileiro, mas o Governo Federal diz não ter dinheiro. Nós estamos totalmente falidos. E não há perspectiva alguma. Eu não sei mais o que fazer”, desabafou Niéde, já demonstrando desespero para manter o parque que tem uma estrutura de 35 mil hectares em áreas que seriam de preservação.
Niéde Guidon informou que o parque tinha 28 guaritas de segurança, mas que foram reduzidas para seis. “É uma perca devastadora que a população de São Raimundo Nonato tem, pois a maioria das famílias tiram seus sustento do trabalho no local”, comentou a arqueóloga. Para a arqueóloga, a mudança que o ex-presidente Lula fez sobre a compensação ambiental foi prejudicial para o parque. Antes as empresas, cujo trabalho impactavam no meio ambiente, eram obrigadas a fazerem doações para as instituições responsáveis. Hoje em dia, com essa mudança, o dinheiro é enviado direto para o governo.
Niede Guidon considera que perdeu seu tempo tentando
conservar a Serra da Capivara (Foto: Arquivo FUMDHAM)
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“Antigamente a Petrobras fazia doações todos os anos, e também nós tínhamos a compensação ambiental, onde as empresas que impactavam no meio ambiente eram obrigadas a fazerem doações para as instituições que cuidam do meio ambiente. Mas o Lula mudou a lei na época em que era presidente, criando o Fundo da Compensação Ambiental de Brasília e agora as empresas têm que entregar o dinheiro para o Governo Federal. Termina que nós ficamos sem a compensação”, disse a diretora da Serra da Capivara.
Ainda de acordo com Niéde, a direção do parque está procurando iniciativas privadas, inclusive recursos de países europeus. Ela utiliza do que o parque representa para a humanidade. “O parque arqueológico é inscrito pela UNESCO na lista do Patrimônio Mundial. É um conjunto de chapadas e vales que abrigam sítios arqueológicos com pinturas e gravuras rupestres, além de outros vestígios do cotidiano pré-histórico. Para muitos historiadores, o parque é um dos mais importantes patrimônios culturais da humanidade”, afirma. Niéde fala sobre a falta de investimento na própria cidade de São Raimundo Nonato, que não a estrutura necessária. Além disso, lamenta ela, o aeroporto que foi inaugurado não funciona. E mais uma vez o motivo é a falta de dinheiro.
“A economia piauiense é bastante afetada por conta da situação do parque, que é um dos principais pontos turístico do estado. Em 1997 foi criado um aeroporto em São Raimundo Nonato, que só foi inaugurado no final do ano passado para facilitar o acesso dos turistas ao local. Mas até hoje não tem nenhuma companhia aérea voando para cá. Nós estamos há quase 500 km do aeroporto mais próximo. Também não existe uma rede de hotelaria digna, grandes companhias de hotéis estrangeiros vieram aqui, mas estão esperando o aeroporto começar a funcionar”, pondera a diretora, que se sente frustrada com a situação.
De acordo com ela, o aeroporto foi feito de qualquer jeito e não tem estrutura para armazenar combustível e água, o que, segundo Niéde, dificulta o avanço da cidade e do turismo. A arqueóloga diz que essa é uma perca principalmente para a população local que depende quase que exclusivamente do parque para ter uma fonte de renda. “O lugar, que já desenvolveu milhares de pesquisas e descobertas de grande importância arqueológica, está praticamente parado e é uma grande perda”.
Estrutura do Parque Nacional Serra da Capivara está comprometida (Foto: Arquivo FUMDHAM)
Fonte: O Olho