O sonho de ter um curso superior ficou mais próximo da realidade dos jovens parnaibanos. No começo dos anos 2000, principalmente a partir de 2005, novas universidades começam a surgir e o número de vagas, inclusive nas já existentes, aumentou vertiginosamente.
A UFPI e a UESPI expandiram seus cursos, além da chegada da FAP (hoje Faculdade Maurício de Nassau) que, somadas têm atualmente cerca de 14 mil universitários, um número que se aproxima de 10% da população local, o que confere à Parnaíba uma posição privilegiada em indicadores nesse campo. Dados estimados apontam que aproximadamente 60% desses estudantes não são parnaibanos. O que, por outro lado, traz uma benéfica injeção na economia local.
As facilidades para se ter um curso superior aumentaram, especialmente para os jovens mais pobres. O governo federal implantou programas de cotas para negros e estudantes de escola pública, ampliou o FIES, o PROUNI e bolsas de pesquisas que contribuíram para o aumento desse contingente.
Ao passo que o Governo acertou na criação de novas universidades, programas e bolsas de pós-graduação nesses últimos 14 anos, a gestão desse material humano e financeiro foi bastante descontrolada. Muitos cursos foram criados sem demanda profissional, outros implantados sem as condições mínimas necessárias para uma boa formação, com deficiência de professores e pouco investimento em pesquisa.
Antes, se formar era um privilégio para aqueles que podiam pagar para morar fora. Com as faculdades à porta, o drama não é mais conseguir graduar-se, mas encontrar um emprego depois de formado. Com a falta de oportunidade na cidade, muitas famílias perdem seus filhos que precisam buscar novos horizontes em outras terras. Os que aqui permanecem, amargam o desemprego!
O desemprego assume uma faceta cruel entre os jovens que, antes, tinham pouca qualificação e, hoje, formam um exército de graduados sem perspectiva de serem absorvidos pelo mercado de trabalho.
O grande sonho individual do jovem parnaibano é ter uma boa formação profissional e um emprego, seguido pelo desejo de ter a casa própria e dinheiro. Sonho apontado em uma pesquisa nacional que procurou mapear o que querem os nossos jovens. Eles ocupam, hoje, um quarto da população do País. Isso significa 51,3 milhões de jovens de 15 a 29 anos vivendo, atualmente, no Brasil, sendo 84,8 % nas cidades e 15,2 % no campo. A pesquisa mostra que 53,5% dos jovens de 15 a 29 anos trabalham, 36% estudam e 22,8% trabalham e estudam simultaneamente.
Guardada a euforia dos avanços na educação, segundo o Censo 2010, apenas 16,2% dos jovens de todo o país chegaram ao ensino superior, 46,3% apenas concluíram o ensino médio e 35,9% têm sua escolaridade limitada ao ensino fundamental. Comparando a escolaridades dos jovens com a de seus pais, os dados representam um ganho de escolaridade nessa nova geração.
Nossos jovens melhoraram o nível de escolaridade, mas não estão conseguindo se inserir no mercado de trabalho conforme as competências adquiridas. O desemprego é uma grave questão social. Essa situação causa problemas à economia, ao desenvolvimento local e prejudica a dignidade e a sobrevivência dos cidadãos.
A taxa de desocupação entre os jovens é sempre maior que na população em geral. Na medição pela PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra em Domicílios Contínua, do IBGE), o desemprego geral passou, nos últimos 12 meses, de 6,5% para 11%. Mas o salto foi de 17% para 22%, no mesmo período, para os brasileiros de 18 a 24 anos. De acordo com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, o desemprego geral baterá em 12% em dezembro e passará dos 13% no fim de 2017. Caso se mantenha na mesma proporção que hoje, a taxa entre os jovens passará dos 27%. Mas a tendência é que o sumiço das vagas para essa faixa etária ocorra de forma ainda mais acentuada.
O reflexo disso para os jovens é dramático. Algumas famílias fazem um esforço descomunal para investir no “futuro” do(s) seu(s) filho(s), porém com o diploma na mão vem o drama da falta de oportunidade. Como a renda familiar tem caído, mais filhos tentam antecipar sua entrada no mercado de trabalho, a fim de ajudar os pais. Quando mais gente procura emprego, disputando um número de vagas que só encolhe, a taxa de desemprego explode.
Mais que dramas pessoais, o forte desemprego nos estratos mais jovens da força de trabalho na cidade deverá causar transformações significativas na geração que chegou recentemente ou está para chegar ao mercado. Parnaíba precisa, urgente, de uma política pública de planejamento que vise buscar alternativas para aliar tecnologia, educação e empregabilidade, com foco na estabilização dessa curva entre oportunidades e demanda. E, até que se faça alguma coisa nesse sentido, cabe a pergunta: o que faremos com os novos profissionais e os que ainda surgirão ano a ano?
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.