Em Acauã, na região Sul, mais de 70% dos eleitores não têm ensino médio. Cientista político destaca que o problema é histórico no Piauí.
Também é alta a quantidade de eleitores que só sabem ler e escrever (Foto: Fernando Brito/G1)
a parte do eleitorado que votará nas eleições municipais deste ano no Piauí não sabe ler e nem escrever. De acordo com a última atualização do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), são 238.073 eleitores analfabetos no estado, número que corresponde a 10,2% do total de pessoas aptas a votar nos 224 municípios piauienses.
Também é alta a quantidade de eleitores que declarou apenas saber ler e escrever, número que passou de 445 mil, algo próximo a 20% do total. Os dados mostram ainda que a maior fatia do eleitorado do Piauí não possui sequer o ensino fundamental completo. São 602.852 eleitores que não terminaram o antigo primário, total que atinge o percentual de 25,9% dos votantes.
Se somados os números de eleitores analfabetos, dos que saber apenas ler e escrever e daqueles com ensino fundamental incompleto, o percentual atinge a marca de 55,4% de todo o eleitorado piauiense. Segundo os dados do TSE, o Piauí possui um total de 2.318.880 eleitores.
Outro dado que chama a atenção é a pequena quantidade de votantes que têm ensino superior concluído. Conforme o tribunal, pouco mais de 6% do eleitorado piauiense concluiu um curso de graduação. São apenas 145.176 pessoas aptas a votar que possuem um diploma de curso superior.
Em Teresina, apenas 2,4% do eleitorado é composta de analfabetos, enquanto 18,7% têm apenas ensino fundamental incompleto e pouco mais de 6% declarou saber somente ler e escrever. A capital do estado possui quase 73 mil eleitores com curso superior, o que corresponde a 13,7%.
Urna eletrônica (Foto: Nelson Jr./TSE)
Estatísticas refletem nos candidatos
Na cidade de Acauã, a 463 km de Teresina, a soma dos eleitores que são analfabetos, dos que apenas leem e escrevem e dos que não tem ensino fundamental completo atinge a incrível marca de 80,9% dos eleitores. Por lá, menos de 1% das pessoas aptas a votar possuem um diploma de curso superior. Acauã tem mais de 5 mil eleitores.
Os números refletem diretamente nos candidatos que disputam as eleições. No último pleito realizado em 2012, mais de 30% dos postulantes a cargos eletivos na cidade declararam saber apenas ler e escrever. Naquele ano, mais de 76% dos candidatos de Acauã não tinham o ensino médio, inclusive o prefeito eleito.
Em Coronel José Dias, a 548 km de Teresina, município que abriga boa parte da área do Parque Nacional da Serra da Capivara, dos candidatos que disputaram as últimas eleições municipais 55% também não tinham nem o ensino médio completo. O prefeito eleito declarou ao TSE ter concluído apenas o ensino fundamental.
Escolha de representantes
De acordo com o cientista político Ricardo Arraes, o alto índice de eleitores analfabetos no Piauí preocupa, mas não é apenas esse fator que reflete na escolha dos representantes. Segundo ele, o fato de possuir baixa escolaridade não necessariamente significa que o eleitor não tenha uma consciência política.
“Esse número de analfabetos ou com pouca escolaridade tem reflexos e preocupa, mas não podemos culpar apenas isso pela baixa qualidade da representatividade política. Podemos ter analfabetos com relação ao estudo, mas que são politizados, bem como temos pessoas estudadas que não possuem consciência política”, falou.
Existem candidatos com curso universitário que não entendem nada de gestão, enquanto outros com escolaridade bem menor conseguem desenvolver uma administração melhor"
Ricardo Arraes, cientista político
Segundo ele, a baixa qualidade da representação política, sobretudo nas cidades pequenas, é oriunda de um conjunto de fatores e cita o lado econômico como um dos principais. Ele diz também que cidades administradas por políticos com pouca instrução enfrentam problemas, mas isso pode não ocorrer em todos os casos.
“Temos que levar em conta vários fatores e não apenas a escolaridade. A educação é muito importante, mas a questão econômica e social é a que mais influencia na hora de votar nessas cidades pequenas. Também devemos destacar que existem candidatos com curso universitário que não entendem nada de gestão, enquanto outros com escolaridade bem menor conseguem desenvolver uma administração melhor”.
O cientista encerrou dizendo que o analfabetismo é uma questão histórica e que pouco se tem feito para mudar essa realidade. Segundo ele, não existem políticas eficazes para acabar com o problema e assim elevar o nível de conhecimento tanto dos eleitores como dos candidatos.
“Lógico que preocupa ter um alto número de analfabetos decidindo as eleições, mas infelizmente isso é histórico no Piauí, pois não existem políticas eficientes para acabar com esse problema no estado e nem no país”, falou.
Fonte: G1/PI