Paulo Alves dos Santos Neto, ex-companheiro da cabeleireira Aretha Dantas, é acusado de feminicídio, ocorrido em 15 de maio deste ano.
Testemunhas são ouvidas em audiência do caso Aretha Dantas. (Foto: Lucas Barbosa/G1)
Aconteceu nesta quinta-feira (23) a audiência de instrução e julgamento de Paulo Alves dos Santos Neto, acusado do feminicídio da ex-companheira, a cabeleireira Aretha Dantas Claro, ocorrido em maio deste ano. Ele não respondeu nenhuma pergunta feita durante a audiência. A sessão foi presidida pelo juiz Antônio Reis Noleto.
Ao todo, foram ouvidas oito testemunhas, sendo quatro de acusação e quatro de defesa. Uma amiga da vítima desmaiou após prestar depoimento, mas passa bem.
A vítima foi morta com quase 20 facadas e atropelada na Avenida Maranhão, Zona Sul de Teresina, em 15 de maio. O acusado, Paulo Alves dos Santos Neto, ex-companheiro da vítima na época, confessou o crime e participa da audiência.
A defesa, feita pelo advogado João Marcos Araújo, que chegou a pedir exame psiquiátrico e teve o pedido negado, questionou às testemunhas relatos de Aretha sobre sintomas correspondentes à suposta esquizofrenia do acusado. A defesa informou ao G1 que não poderia se pronunciar sobre o caso e Paulo não respondeu nenhuma pergunta feita durante a audiência.
Promotor Benigno Filho é responsável pela acusação. (Foto: Lucas Barbosa/G1)
A acusação, feita pelo promotor Benigno Filho, fez com as testemunhas um retrospecto do relacionamento, questionando sobre a instabilidade na relação de vítima e acusado e sobre agressões anteriores sofridas pela cabeleireira. O promotor disse que o rapaz não tem como provar que sofria de transtornos mentais.
“Por que não prova com documentos essa esquizofrenia? Ele é réu confesso desse crime bárbaro, que matou essa moça. Esperamos a conclusão dessa etapa e vamos ao conselho de sentença, ele será julgado. Se ele está doente agora é de consciência pesada de um criminoso que merece responder perante a Justiça", disse.
Tia diz que jovem tinha marcas de agressão
A tia de Aretha, Marli Lopes Menezes, primeira a ser ouvida, disse que via manchas de agressão no corpo da sobrinha quando ela morava com o acusado, mas que ela negava ser vítima de violência. "A gente perguntava se ele batia nela, ela dizia 'não, tia, foi o cachorro, eu bati na porta', dava essas desculpas. Depois ela voltou [a morar na casa da tia], mas a gente via manchas nela", contou.
Após idas e vindas no relacionamento, que era tido como conturbadopela família da vítima, os dois terminaram, Aretha iniciou um novo relacionamento e a tia notou que o acusado continuava procurando a ex. Na noite anterior ao crime, Aretha deixou a casa da tia, no bairro Saci, por volta de 19h, e não voltou.
Corpo foi encontrado na Av. Maranhão, em Teresina (Foto: Reprodução/TV Clube)
A caminho do trabalho, a tia chegou a ver a sobrinha morta na rua, mas devido à situação do corpo, bastante ferido, ela não reconheceu. "A gente achou que era uma vítima de atropelamento. Quando vi aquele corpo, eu achei parecido com a Arethinha, mas achei que não era, não podia ser. Perguntei 'moço, já sabem quem é a moça?', mas ela estava sem documento, sem identificação, então eu fui trabalhar", disse.
A defesa de Paulo disse que a tia chegou à relatar, em depoimento à polícia, que Aretha teria dito que o acusado "ouvia vozes", mas ela negou lembrar-se disso durante a audiência.
Amiga relata que Aretha se distanciou dos amigos
Amiga de Aretha Dantas disse que a vítima se distanciou dos amigos. (Foto: Lucas Barbosa/G1)
Elizete Coutinho, amiga da vítima e segunda testemunha ouvida, desmaiou após ser ouvida, quando conversava com o pai da vítima. Ela foi socorrida rapidamente e passa bem.
Ela declarou que Paulo constantemente mudava o número do telefone de Aretha para que ela não falasse com ninguém. Elizete disse que assim que a vítima foi morar com o acusado, se separou dos amigos, não podendo sequer receber visitas em casa. "Uma vez eu fui à casa dos dois, e ela abriu apenas três dedos do portão, eu nem pude entrar".
Questionada pela defesa sobre uso de entorpecentes pela vítima, a amiga negou, mas depois informou que o casal fazia uso de cocaína.
Amiga disse que era ameaçada por Paulo
Elizângela Ferreira Vitalino foi ouvida e disse que chegou a receber ameaças do acusado, especialmente após o crime. Após o crime, eledeixou uma carta onde ofendia a vítima e uma amiga.
"Só encontrei o Paulo uma vez, que fomos beber na casa dele. Eu, Aretha e Paulo, e nessa vez que encontrei ele, ele me olhou de uma forma enciumada e ameaçadora".
Ela relatou ainda situações de agressão e humilhação contra Aretha. "Ela me falou que ele cuspia na cara dela. Ela não tinha mais roupas, ela estava com as roupas todas rasgadas. Quando ela foi em casa buscar as roupas, a geladeira dela estava toda furada de faca, e foi nesse momento que eu disse: se ele fez isso com a sua geladeira, 'é possível que ele tenha vontade de fazer com você'. Quando ela dormiu na minha casa, ele foi buscar ela lá, e ela saiu chorando, apreensiva. Ela tinha medo que ele fizesse algo comigo".
A quarta testemunha foi Francisco das Chagas Pereira da Costa. Ele é amigo de Elizângela e contou que, um mês antes do crime, foi até a casa de Elizângela e deu uma carona para ela até uma delegacia, onde ela ia solicitar uma medida protetiva contra o acusado.
Delegada fala sobre investigações
A delegada Luana Alves, que investigou o caso, foi a quinta testemunha ouvida e falou sobre as investigações. "Nós trabalhamos com denúncias anônimas, e com isso nos deram alguns endereços onde o réu poderia estar. E em um dos endereços os vizinhos confirmaram que ele morava lá e que ele estava dentro da caso. Eu estava investigando um crime e precisava de elementos que pudessem corroborar com todas as provas que eu tinha. Eu fiz o meu trabalho".
Família diz que acusado era "recluso" e "zangado"
Antônia Ferreira de Souza, primeira testemunha de defesa, foi empregada doméstica na casa da mãe de Paulo até o ano de 2006. Ela relatou que ele era "recluso, fechado, se alterava facilmente, principalmente com os irmãos, por se achar rejeitado pela mãe".
A irmã do acusado, Mariana Sales, disse que o rapaz chegou a ser levado ao psiquiatra por conta do comportamento. "O Paulo sempre foi muito na dele, sempre foi de falar pouco, interagir pouco, às vezes tinha um comportamento meio 'bipolar', quebrava as coisas. Sei de relatos de que quando ele era criança, ele batia a cabeça quando estava com raiva, zangado. Mamãe já levou ele para o psiquiatra quando ele era adolescente, por conta do comportamento recluso", contou.
Ruy Vieira dos Santos Filho, irmão de Paulo, reforçou os depoimentos anteriores a respeito do comportamento do acusado. "Na adolescência, minha mãe começou a perceber que ele não estava bem, porque tinha comportamentos que não condiziam com o comportamento de uma pessoa normal".
Homicídio triplamente qualificado
O promotor do caso, Benigno Filho, afirmou ao G1, logo após denunciar Paulo à Justiça, que havia provas que indicavam a autoria de homicídio triplamente qualificado, incluindo o feminicídio.
Benigno declarou que além de provas materiais como o laudo cadavérico e a faca usada no crime, encontrada na casa de Paulo, havia a confissão do suspeito. “Ele demonstra muita frieza e lucidez no depoimento sobre o crime”, disse o promotor.
Aretha Dantas, de 32 anos, foi assassinada no dia 15 de maio. (Foto: Arquivo pessoal)
O crime aconteceu no dia 15 de maio e, desde o dia 16, Paulo está preso. Em depoimento, segundo a delegada Luana Alves, responsável pelo caso, ele afirmou que a vítima desferiu um golpe de faca nele e que ele cometeu o crime para se defender.
De acordo com a delegada Luana Alves, familiares e amigos de Aretha Dantas disseram à Polícia que a cabeleireira passou a relatar sobre agressões físicas que sofria pelo ex-companheiro após o fim do relacionamento.
Aretha foi encontrada morta na Avenida Maranhão, com mais de 20 golpes de faca pelo corpo e teve seu corpo arrastado após ser atropelada. O autor teria esfaqueado a vítima dentro do carro e depois jogado seu corpo na via.
Fonte: G1 PI