Centenas de pessoas estão, até hoje, sem poder realizar atividades agrícolas, criação de peixes e de outros animais, por conta da devastação provocada pela enxurrada. Nova barragem seria a solução.
Barragem Algodões rompeu no dia 27 de maio de 2009; nove pessoas morreram (Foto: Thiago Amaral / Arquivo O DIA)
Dez anos após o rompimento da barragem de Algodões, que deixou nove pessoas mortas, a construção do novo reservatório no município de Cocal ainda não saiu do papel.
Prometida pelo Governo do Estado e licitada há cerca de cinco anos, a obra é vista como uma solução para melhorar a vida das centenas de moradores que foram atingidos direta ou indiretamente pelo rompimento da barragem, no dia 27 de maio de 2009.
A enxurrada formada pelos milhões de metros cúbicos d'água da barragem destruiu imóveis, devastou plantações gigantescas e matou milhares de animais. Além disso, a força do dilúvio foi tamanha que provocou uma profunda alteração no leito do Rio Piranji, tornando inviável sua utilização pelos moradores para a agricultura, para a criação de peixes e de outros animais.
Por esta razão, centenas de pessoas permanecem sem ter como realizar as atividades que ajudariam a garantir o sustento das suas famílias, o que faz com que a construção da nova barragem seja aguardada com ansiedade pelos moradores do município.
Corsino Medeiros, presidente da Associação das Vítimas do Rompimento da Barragem Algodões (Avaba), afirma que cerca de 1.200 famílias foram afetadas, direta ou indiretamente, pelo rompimento da barragem. Embora nem todas essas famílias morassem às margens do Rio Piranji, a imensa maioria delas dependia dele para sobreviver.
Sobre a nova barragem, o Governo do Estado tem dito que está aguardando apenas a liberação de recursos pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) para que a construção seja iniciada.
"O rio foi soterrado pela força da enxurrada. Dada a força das águas, as terras das margens do rio foram arrastadas por uma longa extensão, acabando com o leito. Hoje o Rio Piranji é intermitente, ou seja, ele desaparece em parte do ano", explica Corsino.
Corsino Medeiros, presidente da Avaba (Foto: Thiago Amaral / Arquivo O DIA)
O representante das vítimas da tragédia reitera que a construção da nova barragem Algodões é importantíssima para os moradores de Cocal, e lamenta que a obra esteja demorando tanto tempo para ser executada.
"Está demorando muito. A obra já devia ter começado há, pelo menos, dois anos atrás. Hoje, poucas pessoas vivem de atividades relacionadas ao rio. Mas, até 2009, a maioria das famílias atingidas dependiam do Rio Piraji. O rio era e é vital para a região. Como ele foi soterrado, não existe aquele leito original, que era estreito e mais fundo. Por isso, é essencial que se construa a nova barragem, para perenizar o rio e ele possa voltar a ser como era antes", esclarece Corsino.
O presidente da Avaba afirma que, ao longo desses dez anos, o poder público fez bem menos do que deveria ter sido feito para reparar os danos sofridos pelas milhares de pessoas atingidas.
"Inicialmente, eu diria que houve um descaso. A atuação da nossa associação foi necessária, porque faltou uma política pública específica para a região, destinada a contemplar os municípios atingidos, por meio, por exemplo, da realização de obras públicas compensatórias. É o que diz a lei, mas isso não foi feito. As vítimas foram ignoradas, recebendo apenas as casas populares nos assentamentos que foram chamados de agrovilas, que de agro não têm nada", avalia
Corsino lembra que desde 2006 o estado já havia recebido uma verba especial do Governo Federal, através do Ministério da Integração Nacional, para realizar a recuperação e a manutenção da barragem Algodões, intervenção que, se tivesse sido realizada, poderia ter evitado a tragédia.
Indenizações
Corsino Medeiros afirma que, pelo menos no tocante ao pagamento das indenizações , o Governo do Estado tem agido corretamente, efetuando os pagamentos em dia.
"Das 1.200 famílias atingidas, 970 estão sendo indenizadas. A Justiça avaliou todo o prejuízo causado pela tragédia em R$ 400 milhões. Mas, para recebermos enquanto vivos, nós fizemos um acordo extrajudicial - que envolveu o Judiciário, o Legislativo, e o próprio governador -, e aceitamos reduzir de R$ 400 milhões para R$ 60 milhões. São esses R$ 60 milhões que estão sendo pagos em 30 parcelas", detalha o presidente da Avaba.
Cada família recebeu um valor proporcional ao prejuízo que sofreu. As indenizações foram calculadas a partir de um cadastro que as vítimas fizeram à época junto aos órgãos de Defesa Civil nacional, estadual e municipal, e os valores foram confirmados pelo Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Piauí (Emater) e pelo sindicato que representava os trabalhadores rurais da região. Das 30 parcelas, 24 já foram pagas.
Também foram construídas pouco mais de 500 casas para as famílias que foram atingidas pela onda de destruição provocada pelo rompimento do reservatório.
Wellington diz que obra depende de liberação de recursos federais
O governador Wellington Dias (PT) afirma que sua gestão tem se empenhado para acelerar a construção da nova barragem Algodões, e relata que falta apenas o Governo Federal liberar sua parcela de recursos para que a obra seja executada num ritmo mais acelerado.
"Nós estamos com um trabalho quase que diário. Eu estive essa semana [passada] no Ministério da Integração para buscar a liberação dos recursos para esse investimento. Nós já conseguimos quitar mais de 70% das indenizações [para as vítimas], já colocamos nossa parte de contrapartida [para a obra], e agora faremos uma barragem de concreto, segura, enfim, que vai garantir as condições de perenizar o Rio Piranji, que sai dali de Cocal em direção a Buriti dos Lopes e Parnaíba. E o que falta? Apenas a liberação da parte do Governo Federal, que tem promessa de solução agora neste mês de junho", afirmou o governador em entrevista à O DIA TV, nesta segunda-feira.
Fonte: Portal O Dia