Profissionais da UTI do HU UFPI. Crédito: Divulgação.
O coronavírus chega como a maior pandemia dos tempos modernos. Com novos casos sendo notificados dia após dia, o clima é de apreensão e medo. No entanto, esse medo não pode tomar conta dos brasileiros. É tempo de seguir as orientações dos médicos e ficar em casa para evitar que o estrago seja avassalador no sistema de saúde, tanto público como privado.
O infectologista Carlos Henrique Nery reforça que as medidas de proteção contra o coronavírus devem ser seguidas à risca para evitar maiores danos ao sistema de saúde do Brasil. Somente o isolamento é capaz de diminuir o contato entre as pessoas e as consequentes infecções. No entanto, a boa notícia é que vírus não está no ar, voando livremente. Mas pode estar na sua mão ou roupas, daí a necessidade de redobrar a higiene e ficar em casa.
Carlos Henrique Nery, infectologista. Crédito: Mayara Dias.
Quanto mais cedo houver conscientização do isolamento, menos casos haverão no Piauí e Brasil. “O isolamento social reduz o grau de contato das pessoas. E o grau de contato é crucial nos modelos de disseminação de doenças, que funciona exponencialmente. Reduzir o contato reduz exponencialmente a doença. Quanto mais cedo isso for feito, uma vez que a transmissão no local é inevitável no mundo, isso será minimizado bastante. Por isso que o Piauí agiu tão corretamente em decretar o fechamento de escolas, universidades e medidas adicionais”, explica Carlos Henrique Nery.
Ao chegar em casa: lavar as mãos e botar a roupa para lavar
Um tabu que cai por terra: a doença não é transmitida pelo ar. “Excepcionalmente se alguém infectado espirrar ou tossir na frente de outra pessoa saudável. Fora isso, o vírus não está no ar. Não é preciso se preocupar em respirar o ar que alguém respirou. O mais adequado é lavar as mãos com água e sabão ou o uso de álcool gel em 70%. Além disso, evitar lugares aglomerados. Se isso não for possível, carregue na higienização das mãos. Não há necessidade de usar máscara no trabalho, na rua ou dirigindo automóveis”, revela.
Isso é importante de ser dito para que as pessoas entendam que devem deixar as máscaras cirúrgicas para quem realmente precisa. “Pessoas que não tem como deixar de trabalhar devem chegar em casa e higienizar as mãos, tomar um banho e trocar de roupa. Colocar a roupa para lavar. Água e sabão é fundamental, pois o vírus não resiste. São as melhores armas contra ele. A membrana do vírus é de gordura, que automaticamente se destrói com o sabão”, acrescenta o médico infectologista.
Crédito: Allan Alexandre/Editoria de Infografia Meio Norte.
Piauí sai na frente do resto do Brasil no combate à doença
O médico explica que o Piauí saiu na frente no combate ao vírus em relação às medidas adotadas em nível nacional. “O Brasil negligenciou muito a situação, então acho que não temos um prognóstico positivo. Não deveríamos ter tido Carnaval. O presidente da república deu um péssimo exemplo [convocando manifestações no pico de infecções] que foi devastador. Vamos pagar caro pela inconsequência dele. Muita gente continua se reunindo, apesar dos números horrorosos da Itália. Não vejo com bons olhos a situação do país. Espero que os Estados que começaram as precauções de transmissão coletiva antes da transmissão presente tenham a transmissão litigada, como é o caso do Piauí”, aponta Carlos Henrique Nery.
No entanto, ainda há esperança. Na China foi zerada a contaminação comunitária, e o mesmo pode acontecer no Brasil. “É possível conter a epidemia com as medidas de redução de contato e precauções individuais de cada um. Se isso for feito, não só poderemos reduzir os casos como vamos achatar a curva em menor unidade de tempo. Vamos dar oportunidade de alcançar a tecnologia para o desenvolvimento de uma droga ou vacina. O conselho é: siga rigorosamente os protocolos, os profissionais de saúde principalmente. Os hospitais são foco não só de adoecimento, pois grande parte dos doentes são justamente os profissionais de saúde. Somos foco de disseminação. Os médicos não podem ser vítimas nem algozes da população”, enfatiza o médico.
Cloroquina funciona mesmo?
O hidroxicloroquina, ou simplesmente cloroquina, chama a atenção do mundo como a luz do fim do túnel para a cura da infecção por Coronavírus. No entanto, ainda não há estudos conclusivos sobre a eficácia do remédio, que é usado há décadas para enfermidades como a malária e o lúpus. Embora Trump tenha pedido agilidade na fabricação do fármaco, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não recomenda o uso.
Crédito: divulgação.
Hospitais sensibilizam população com manifestações em todo o mundo
Em todo o mundo os profissionais da saúde estão fazendo manifestações via redes sociais para sensibilizar as pessoas da necessidade de ficar em casa. No Piauí não é diferente. Profissionais do Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí (Ufpi) e Unidade de Pronto Atendimento do bairro Renascença, zona Sudeste de Teresina, deram o exemplo com uma ação singela e positiva.
A ideia é conter o número de pessoas infectadas, pois de acordo com Sidney Klajner, médico-cirurgião e presidente do Hospital Albert Einstein, em entrevista ao Estadão, existe a previsão de 15 pessoas infectadas para cada caso notificado.
No HU, os profissionais de saúde da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) posaram com plaquinhas. “É uma ação necessário porque o covid é um vírus altamente virulento e contagioso. O que acontece é que se as pessoas não se protegerem elas vão manter o ciclo de contaminação. Se tem menos pacientes contaminados, vamos ter menos pacientes que vão evoluir para a forma grave da doença e dessa forma conseguimos diminuir o número de casos graves que chegam aos hospitais, dando assistência adequada. Com uma demanda maior não vamos conseguir. É uma atitude carinhosa de chamar atenção da população. Nesta pandemia, que assusta as pessoas, estamos buscando sensibilizar com afeto, de forma meiga”, afirma a médica Rejane Prestes, responsável técnica pela UTI do HU.
Nos outros países onde estão ocorrendo os quadros mais graves, com pico de acometimento, 40% dos pacientes são profissionais de saúde. “Nós nos expomos muito. É uma doença que é altamente contagiosa. Se fazemos atendimento em uma circunstância que não é adequada estamos ainda mais expostos”, considera a diretora.
A questão das máscaras é outro ponto importante. “Essa doença precisa de todo um aparato de EPI, que está tendo um déficit no mundo inteiro. Não tem sentido a população em geral usar máscara n95, que usamos quando vamos fazer procedimentos de alta complexidade. Essas máscaras devem ser usadas apenas por profissionais de saúde. Se toda a comunidade compra, vamos ficar sem”, aponta Rejane Prestes.
UPA reduz atendimentos em 20% com ação de conscientização
A Unidade de Pronto Atendimento do Renascença já colhe os frutos da campanha, similar ao que foi feito no Hospital Universitário. “Nossa conscientização está dando certo. Tivemos uma queda no número de atendimentos, principalmente dos pacientes não urgentes. Orientamos buscar a UBS e a UPA apenas em casos de febre mais urgente e de dificuldade respiratória. Deu uma diminuída de 20% em relação à semana passada”, aponta Thamara Carvalho, diretora da unidade.
Profissionais da UPA do Renascença. Crédito: Divulgação.
A corrente dos profissionais é por uma boa causa. “A gente resolveu levar essa mensagem para que as pessoas realmente fiquem em casa, pois é a medida mais efetiva para a atual situação. É uma forma de sensibilizar as pessoas. É uma corrente de profissionais de saúde de todo o Brasil que estão dando o seu melhor para resolver essa situação. Nós, que estamos a frente do hospital, precisamos estar prontos para receber casos de maior gravidade”, aponta.
E a saúde mental? Como fica?
Em razão das recomendações de profilaxia para evitar o contágio em massa do coronavírus, muitas pessoas estão tomadas pelo tédio de ficar em casa. Embora seja uma situação aparentemente passageira, é possível adotar algumas técnicas para manter a saúde mental em dia.
Neste caso, é necessário lutar com as armas que estão ao seu alcance. É o que explica Rodrigo Lopes, psicólogo com abordagem em terapia cognitiva comportamental e hipnose. “É preciso procurar ter qualidade de vida da maneira que está se podendo ter. Seguir o que a Organização Mundial de Saúde, claro, mas mantendo contato com quem está na sua casa, com todo o cuidado para evitar proximidade. Além disso, tendo um espaço para assistir um filme, utilizar a internet. Fazer comunicação por vídeo com outras pessoas que estejam fora do seu convívio”, explica.
É preciso ter boas esperanças, acima de tudo. “É pensar que é um período que vai passar. É preciso a conscientização das pessoas para que o vírus não nos leve a uma realidade de adoecimento maior da população. Neste caso, é sair do ócio. Ler, limpar alguma coisa, comprar revistas e livros online, estar sempre em comunicação com os amigos, mesmo em isolamento, através da internet. É preciso seguir as regras estabelecidas por cada ambiente”, acrescenta Rodrigo Lopes.
Já ouviu falar no dizer que “cabeça vazia é oficina do diabo”? O psicólogo reforça essa ideia. “O ócio é, sim, perigoso. Dentro dessa realidade é necessário ter cuidado. É preciso buscar está fazendo alguma coisa. Mas em muitos momentos precisamos mesmo estar parados, descansando. O corpo pede isso. No entanto, é necessário lidar com a situação. Assim diminuímos o risco da doença e aumentamos o imunológico das pessoas”, aponta o profissional da saúde mental.
É preciso ter cuidado para não desenvolver transtornos. “As pessoas estão ficando preocupadas e isso pode desencadear a uma psicopatologia. Se a pessoa já tem isso, pode levar a facilitar essa realidade. Principalmente com o medo de pegar a doença. Hipocondríacos podem sentir mais facilidade em perceber e ter a doença, criando medos excessivos. Rituais, como transtorno obsessivo compulsivo, além da própria ansiedade”, revela Rodrigo Lopes.
Fonte: Portal Meio Norte