Foto: Breno Moreno/Cidadeverde.com
A jovem de 27 anos, resgatada ontem (23) após ser mantida em cárcere privado e em situação de escravidão por 15 anos na zona Sul de Teresina por uma empresária, não sabia discernir notas em dinheiro e nunca frequentou a escola. Em entrevista ao Notícia da Manhã, o delegado Odilo Sena, do 6º DP, disse que a vítima não tinha conhecimento de nada.
“Ela tinha a chave de casa, ela podia sair a qualquer hora, mas não sabia como fazer, ela não sabia para onde ir, ela não tinha conhecimento, ela não sabe discernir uma nota de R$ 2, de R$ 50. Ela não sabe o que é aniversário, ela não sabe ler, não sabe escrever. Ela nunca frequentou a escola”, explicou.
O delegado Odilo Sena, responsável pelo caso, informou que a vítima tinha uma relação de mãe com o filho da empresária, que possui espectro autista.
“Pelas investigações, pelas oitivas de várias testemunhas, dessas testemunhas que mais se aproximaram dessa menina, praticamente que quem criava a criança era ela e enquanto a criança estivesse em casa ela tinha que ficar do lado dela, inclusive na hora de dormir. Ela tinha um apego também com a criança e inclusive a criança chamava ela de mãe”, disse o delegado.
Além de não receber salário ou benefícios, ao chegarem na residência da suspeita, a Polícia Civil constatou que vítima dormia em um quarto sem nenhuma estrutura.
“Ela não tinha nenhum tipo de benefício, não recebia salário, ela tinha um quarto para dormir, mas muito mal estruturado, era quente, as roupas eram misturadas também em uma mala, é uma situação triste porque na versão da investigada, ela disse que ela tratava ela como um filha e a gente viu outra coisa, ela maltrapilho e segundo ela [a vítima], usava somente roupas usadas da proprietária e de outras pessoas que passavam para ela, roupa que ninguém queria”, acrescentou Odilo Sena.
O delegado ressaltou ainda que a empresária utilizava da influência que tinha na cidade onde a família da vítima mora, para ameaçar os pais da jovem.
“É pura falta de informação, essas pessoas são pessoas simples, pessoas que não sabem escrever, não sabem ler, não tem discernimento nenhum do que que acontece hoje em dia, o mundo hoje é muito complexo e a gente sem educação, sem instrução nós somos meros peões na mão de um sistema perverso, inclusive de pessoas perversas, e foi isso ao meu ver que aconteceu. A família dela é uma família humilde, pobre, que vive no interior do Maranhão e a investigada é uma pessoa de posses, é uma conhecida da região lá no Maranhão, respeitada e esse poder, acredito eu, é que fez com o que ela usasse esse poder contra essa família, ameaçando essa família na busca de trazer uma pessoa para cuidar dos filhos dela”, relatou.
No momento, a empresária Francisca Danielly Mesquita Medeiros está presa temporariamente e passará por audiência de custódia. Já a jovem de 27 anos voltou para a sua família.
Entenda o caso
Uma empresária identificada como Francisca Danielly Mesquita Medeiros, 38 anos, foi presa, nesta terça-feira (23), suspeita de manter a prima e afilhada- atualmente com 27 anos- em cárcere privado, sob tortura e em situação de escravidão, em uma residência no bairro Ilhotas, na zona Sul de Teresina.
A investigação teve início após a vítima conhecer um rapaz e relatar o caso. O reencontro emocionante com a mãe ocorreu no 6º Distrito Policial, horas após o resgate.
Rebeca Lima
redacao@cidadeverde.com
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