A decisão veio após a Justiça determinar 24 horas para o transporte aéreo de uma fêmea de filhote de peixe-boi do Piauí para Pernambuco.
Filhote de peixe-boi encalha em praia de Luís Correia e turistas o empurram de volta para o mar — Foto: Reprodução
Após a Justiça determinar 24 horas para o transporte aéreo de uma fêmea de filhote de peixe-boi do Piauí para Pernambuco, o governo do estado autorizou, na tarde deste sábado (16), um avião para o deslocamento. O animal encalhou no litoral piauiense e está há quase 10 dias sob cuidados de biólogos.
A filhote de peixe-boi encalhou duas vezes em menos de 24 horas e foi resgatada no último dia 9, no litoral do Piauí. A coordenadora da Comissão Ilha Ativa, a bióloga Liliane Sousa, informou que a filhote ainda não tinha sido transferida porque o governo do estado não tinha disponibilizado o transporte aéreo, necessário nesses casos.
Em nota, a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) não informou se o contrato com a empresa de táxi aéreo estava sem cobertura, conforme denunciou a ONG Comissão Ilha Ativa.
Segundo os biólogos, o animal apresentou problemas digestivos e pode morrer se não for transferida ao local adequado de atendimento, o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/CMA), na Ilha de Itamaracá (PE).
"Se não for transportado de forma rápida para o centro especializado, poderá vir a óbito (...) No momento, o filhote encontra-se clinicamente apto para o transporte, o qual precisa ocorrer por via aérea, salvo contrário levando grande risco ao animal. Caso não seja rapidamente transportado, o filhote poderá começar a regredir na estabilização e por isso recomendo a agilidade no envio para Pernambuco", informou laudo veterinário.
Na decisão do juiz José Cláudio Diógenes Porto, da Vara Única da Comarca de Luis Correia, caso a decisão não fosse cumprida no prazo, o estado teria que pagar multa diária de R$ 5 mil. A transferência é necessária porque o estado dispunha de espaço para os cuidados, que no momento está desativado por falta de estrutura.
Dois encalhes em menos de 24 horas
Em menos 24 horas, o filhote de peixe-boi devolvido ao mar por turistas encalhou duas vezes na Praia de Atalaia, em Luís Correia, no Litoral do Piauí, na sexta-feira (9). A equipe de resgate do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) fez algumas orientações para as pessoas que encontram animais marinhos na praia.
"O filhote foi reconhecido como o mesmo de quinta-feira [8]. É um filhote recém-nascido, ainda tem vestígios do cordão umbilical, pesa entre 25 e 30 kg e é uma fêmea. Há cerca de uma semana monitorávamos as aproximações dele, com a ajuda da comunidade, as informações estavam chegando por meio das pessoas que avisaram que estavam avistando o animal", explicou a bióloga Liliana Oliveira, do ICMBio.
Conforme o Instituto, o animal vai passou por exames e avaliações para detalhar sua situação. A bióloga Liliana deu algumas orientações para as pessoas que avistam animais encalhados na praia:
Nunca tentar devolver animais para a água antes que eles sejam examinados por veterinários;
Tentar proteger o animal do sol;
Não oferecer água e nenhum tipo de alimento;
Tentar manter o animal molhado, mas tomando cuidado com narinas e possíveis ferimentos;
Ligar imediatamente para o ICMBio por meio dos contatos: (31) 9 7312-9797, (86) 9 8170-0317 e (86) 9 9806-1009.
Segundo os biólogos, os animais quando encalham estão debilitados e podem não conseguir fazer o percurso de volta para as águas mais profundas. O filhote de peixe-boi precisa ser socorrido e passar por uma reabilitação antes de ser reinserido no seu habitat.
Berçário de peixes-boi
No Litoral do Piauí vive a maior população de peixes-boi do país. Os manguezais do encontro do Rio Igaraçu com o mar formam um habitat ideal para a alimentação e reprodução desta espécie.
Em 2023, pelo menos três filhotes de peixes-boi encalharam em praias do estado. Dois deles foram enviados para Itamaracá, no Pernambuco, onde passam por reabilitação.
Segundo a bióloga Liliana Sousa, as atividades do ser humano na praia afetam os animais, o que causa os encalhes de filhotes.
"A pesca de arrasto, a circulação de embarcações que às vezes colidem com a mãe e o filhote, a ausência de áreas abrigadas, a retiradas dos manguezais, poluição, lixo, tudo isso contribui para que os filhotes se desprendam das mães", comentou.
Filhote de peixe-boi é resgatado após encalhar na praia da Pedra do Sal, Litoral do Piauí — Foto: Divulgação
O Piauí conta com o Projeto Peixe-boi Marinho, um centro de preservação do peixe-boi marinho, mas que está desativado desde 2022. O local precisa de uma reforma para voltar a receber os peixes-boi para recuperação.
Segundo o analista ambiental Bruno Vinícius, apesar dos problemas, as atividades do Centro não foram totalmente paralisadas. O prédio administrativo continuou funcionando, e as atividades de preservação e monitoramento dos animais continuaram.
Fonte: G1 PI