Levantamento do Ipea e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública traz levantamento de dados de homicídios e vários outros crimes, como estupro. Estado também foi um dos dois únicos do país a registrar aumento entre 2017 e 2022.
PM atende local de crime de homicídio na Zona Leste, região de Teresina com maior aumento de mortes — Foto: Lívia Ferreira/g1
O estado do Piauí teve o maior aumento da década na taxa de homicídios por 100 mil habitantes. Os dados são referentes ao período entre 2012 e 2022. A análise foi produzida em levantamento do Ipea e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, por meio do Atlas da Violência, divulgado nesta terça-feira (18).
O g1 procurou a Secretaria de Segurança, que informou que não vai se pronunciar sobre os dados.
O aumento diz respeito à taxa de mortes por 100 mil habitantes. Enquanto em 2012 esse índice era de 16 mortes, em 2022 a taxa subiu para 24 registros a cada 100 mil habitantes. Vale destacar que o aumento não foi registrado de forma semelhante em outros estados.
O Piauí teve um aumento de 47,9%. Em segundo lugar ficou o Amapá, com crescimento de 15,4% e em terceiro aparece Roraima, que registrou 14,5% de crescimento no índice de mortes. No outro extremo, o Distrito Federal reduziu a mortalidade violenta em -67,4%, seguido por São Paulo (-55,3%) e Goiás (-47,7%).
Em 2023, o estado registrou a primeira redução em quatro anos, nos números absolutos de mortes. Quanto ao índice total de mortes, a taxa no estado é a menor do Nordeste, conforme o Atlas, mas o aumento significativo preocupa especialistas.
O que explica o aumento expressivo?
Marcondes da Costa Brito, doutor em sociologia, pesquisador do tema e membro do Núcleo de Pesquisas sobre Crianças, Adolescentes e Jovens (NUPEC) da Universidade Federal do Piauí (UFPI), diz que o período de aumento coincide com a chegada ao estado das facções criminosas.
"Essa série histórica de crescimento diz respeito à ocupação do estado por grupos criminais, principalmente armados, que passam a disputar o tráfico de drogas, assaltos a bancos, criar normas nos territórios, e a ausência de um plano específico calcado em metas para resolver".
Ele detalha a ação desses grupos que podem levar à variação nessas taxas de mortes, tanto para aumentar quando reduzir os índices, caso não haja planejamento por parte dos órgãos de segurança.
"De uma perspectiva bem lógica, essa violência é uma violência armada, o homicídio é o crime maior contra a vida, ocasionado especificamente por arma de fogo. O Atlas, o Monitor da Violência do g1, o Fórum [Brasileiro de Segurança Pública] estão apontando para isso. Se você não tem um plano para reduzir homicídios, quando isso acontece é por conta das ações de grupos criminosos que resolvem se pacificar, como ocorre em todos os estados do território, ou quando um grupo domina uma área", explicou.
O pesquisador destaca ainda que reduções de crimes, com ações por parte do podre público, dependem de um planejamento bastante preciso, o que, segundo ele, não é percebido no estado do Piauí.
Municípios
O estado do Piauí (25,2) vem na contramão de seus vizinhos, com aumento de 41,6% na taxa de homicídios estimados entre 2017 e 2022. Esse crescimento foi acompanhado de uma variação de mais de 155% no número de armas registradas no mesmo período.
A escalada das mortes violentas é atribuída ao aumento do poder bélico das facções criminosas que têm se instalado sobretudo no litoral do estado, aliando-se a pequenas gangues locais e incentivando a disputa armada pelo controle do tráfico de drogas na região.
Estão nessa região as três maiores taxas do estado: Cajueiro da Praia (138,2), Luís Correia (114,2) e Ilha Grande (97,0), além de Parnaíba (47,5), a maior cidade depois da capital Teresina (40,4), na mesorregião Centro-Norte Piauiense. Ainda ao norte, também vale o destaque para Piripiri (56,5).
Assim como em Pernambuco e Sergipe, o PCC é a maior facção local do estado.
2017 a 2022
Considerando as variações entre 2017 e 2022, as maiores reduções ficaram por conta do Acre, que logrou diminuição de -57,0%, seguido do Rio Grande do Norte (-49,1%) e Ceará (-45,9%). Apenas duas UFs obtiveram aumento da violência nesse período, Piauí (25,5%) e Rondônia (2,8%).
Fonte: Portal G1 PI